Desde criança aprendi que éramos um país com cento e vinte milhões de técnicos de futebol. Se no resto do mundo as pessoas tem um pouco de médico e louco, no Brasil éramos todos Telês Santanas.
Disse “Éramos” porque nestes poucos anos que me separam da minha infância a população cresceu, as redes sociais surgiram e mudamos de profissão. Assim como os craques aposentados, nos tornamos duzentos milhões de comentaristas esportivos.
Agora, com o teclado em punho e nosso conhecimento ampliado por milhões de compartilhamos nos lançamos a tarefa de analisar os esquemas táticos, comparar os técnicos, eleger os craques da rodada e tecer considerações profundas:
_ “Se o Falcão tivesse na Copa O James não teria aparecido”.
_ “A Espanha envelheceu”.
_ “Di Maria está melhor que o Messi”.
_ “Quando o Pelé se machucou o Amarildo deu conta”.
_ “Esse Robben lembra muito o Caçapava”.
Se fosse só isso até que estaria bom, mas vamos mais longe, nos tornamos misturas de sociólogos com cientistas políticos (que bicho isso daria?) e começamos a filosofar sobre o que a Copa significa na nossa sociedade, sobre a forma com que as vitórias Brasileiras influem na popularidade da Dilma. Prevemos esquemas fraudulentos que envolvem a Fifa, os jogadores de algumas seleções, um árbitro da Noruega e a cúpula do PT:
_ “A Copa está comprada”.
_ “Tá tudo armado para favorecer a Dilma”.
_ “Você não viu que o bandeirinha errou um impedimento no jogo de Gana? Isso é esquema dos Tucanos!”
E assim vai, o rebelde prefere que tudo dê errado para desmascarar a grande farsa da Copa, o Petista exalta as maravilhas do nosso país e da perfeita organização qda competição, o Hipster se mostra indiferente, prefere comentar um festival de música no interior da Irlanda e o patriota está extasiado com o hino a Capela, a emoção dos jogadores e a narração empolgante do Galvão.
Mas a festa está acabando, vamos nos despedir dos gringos, esquecer o carnaval da pegação da Vila Madá e descer do nosso pedestal de comentaristas esportivos para nossa pequenês habitual. E não nos esqueçamos dos vencedores: Entreguemos a taça as redes sociais, que nos elevaram ao nosso novo status de produtores de conteúdo! Selfie para comemorar!