Fui educado para ser marxista. Não em casa. Lá, eles focavam mais em me ensinar a lavar os alimentos antes de comer ou não cair na piscina depois das refeições.
Porém tenho a impressão que todos os professores que tive do colégio a faculdade eram marxistas.
Lembro-me do Takara, lá em Santo André, quando nos ensinou que a história da humanidade era a história das lutas de classe. Ainda posso sentir o ar de satisfação dele ao pronunciar aquelas palavras.
Anos depois, pura incoerência, éramos doutrinados no Marxismo numa faculdade de publicidade. O lugar de aprender os estratagemas capitalistas para seduzir os ingênuos consumidores era usado para disseminar os ideais de Gramsci e Engels. E se isso não fosse absurdo o suficiente, a cada aula que tínhamos ensinando as benesses da ditadura do proletariado um país comunista caía, com a população nas ruas celebrando sua libertação.
Eu não tinha discernimento para ter uma opinião muito profunda na época e como todo garoto de dezoito que sonha um mundo melhor, repetia o que me ensinavam: O Capital escraviza o homem, os imperialistas nos dominam, a grande imprensa está a serviço do Capital e dos imperialistas, vocês podem imaginar o resto.
Com o passar do tempo, lendo, ouvindo, conversando e estudando, comecei a mudar meu ponto de vista. Me interessei por textos de economistas de direita como o Delfim Neto ou Luis Mendonça de Barros. Gostava porque eles citavam fórmulas, tabelas, números. Coisas que passaram a fazer mais sentido para mim do que o discurso marxista que eu havia aprendido. Sem perceber, estava gostando do sarcasmo do Paulo Francis e entendendo porque os americanos idolatravam Ronald Reagan.
Não demorou muito para me decepcionar com tudo o que ouvia da esquerda e isso me deixava cada vez mais feliz. Percebi que muito do que aprendera na faculdade era uma coleção de clichês e muitas mentiras. Me senti traído pelos professores terem omitido que Stalin e Mao eram os maiores assassinos do século XX. Como assim? Quer dizer que os militares brasileiros não são mais malvados que eles? Não entendia por que a esquerda defendia o Irã, onde a mulheres e homossexuais eram discriminados e o país sequer era socialista.
Desenvolvi especial aversão à dialética do Engels e a frase dita com tanto orgulho pelo professor Takara. Percebi que a História é muito maior que a “história das lutas de classe”.
Quanto mais eu lia a Marilena Chaui, mais eu gostava do Roberto Campos e via no liberalismo uma chance maior de conquistar o que seria minha grande utopia na adolescência, um mundo com mais oportunidades, onde os pobres tivessem escolas decentes, empregos, acesso a saúde e dinheiro o suficiente para uma vida digna. Não queria mais a igualdade, queria apenas que não houvesse gente na miséria.
Mais uma coisa importante me afastava da esquerda. Eu considerava o discurso dos esquerdistas carregado de ódio e revanchismo. Sempre degradando os empresários e a classe média. Eu havia me tornado um empresário de classe média e lutava todos os dias para manter minha empresa e as pessoas que nela trabalhavam. Não preciso nem dizer minha aversão pela (já falei dela, né?) Marilena Chaui.
Só que algo mudou nos últimos dois anos, especialmente depois das manifestações de 2013. Algo que se intensificou nestas eleições. A direita saiu da toca. Isso mesmo, agora poderia ter amiguinhos com quem conversar pelas redes sociais, amiguinhos que falariam de Adam Smith, comentariam os livros do Thomas Friedman e do Steven Levitt. É bom ser um direitista sem culpa.
Mas esperem, o que é isso? Algo de estranho está acontecendo!
O povo de direita fala numa revolução cubana no Brasil, em bolivarianismo. Culpa o nordestino pela indolência, o pobre pela pobreza. Reclama de aeroportos lotados, do excesso de brasileiros em Orlando.
“O Brasil está virando a Venezuela”!
“Eu pago imposto para vagabundo não trabalhar!”
“Quer defender o povo vai prá Cuba!”
Ei amigos, o que é isso? Vocês estão vociferando clichês! Isso mesmo, frases feitas e cheias de ódio. Assim como a esquerda fez durante toda a minha vida. Os novos heróis da direita, quase todos da Veja, parecem a Marilena Chaui de camisa azul. Cadê as análises inteligentes? Cade os números? Cadê o Delfim, cadê o Roberto Campos?
Ninguém me ouve. O Barulho dos gritos é muito alto.
De repente, me vi intelectualmente isolado e confuso, perdido no meio de uma guerra de discursos vazios e ofensas mútuas. A esquerda me decepcionou no passado, a direita está me abandonando agora. Me resta correr ao aeroporto lotado e fugir, não para Cuba, angústia da direita, nem para Miami, fim da esquerda, mas para o Butão onde o conceito de Felicidade Interna Bruta foi inventado por um rei de nome impronunciável e onde me livrarei das discussões políticas nas redes sociais.