Uma vez ouvi numa palestra que quem não conversa com taxistas jamais poderia ser um publicitário.
Vou mais longe, quem não se interessa pela conversa do taxista, além de não trabalhar com propaganda, desperdiça uma das melhores coisas que a vida em metrópole oferece.
E entre todos os taxistas do mundo, não há quem possa superar o carioca.
Minha recente viagem pelas terras fluminenses revelou pelo menos três fantásticos personagens e aqui esta um pouco do que aprendi com eles.
Taxista 1
Falou do seu divórcio, do drama que vivia porque a filha de 7 anos estava triste. Tentei consolá-lo. “Divórcio é assim mesmo, depois passa”. Ele retrucou com tranquilidade. “Eu sei, esse era meu quarto casamento”.
Depois contou a festa de uns amigos gays na noite anterior. “Esses caras tem bom gosto, transformaram o salão do prédio num boteco com decoração e tudo. E tinha só comida de boteco: Porção de linguiça, bolinho de bacalhau… Bebi tanto que não conseguia dirigir, tive que dormir no carro, na rua mesmo”.
Ainda contou das grandes gorjetas que já recebeu de um banqueiro português, de executivos de Dubai e de brasileiros abastados.
Taxista 2
Esse era mais romântico. Disse que era casado há vinte anos e não conseguiria viver sem a esposa. Porém, a chama sexual era difícil de manter por tanto tempo, que os dois já não tinham desejo um pelo outro e que isso era uma questão difícil de tratar. Nesse caso sequer arrisquei palavras de consolo. Imitei um analista e mantive-me em silêncio até o fim da sessão. Ou, no caso, da corrida.
Taxista 3
Bastante informado sobre a situação política do Rio, descreveu diversos empreendimentos do Eike Batista (uma unanimidade entre os assuntos dos taxistas) e as suas ligações com os governos. Depois, num certo exagero, disse que durante a olimpíada irá alugar seu apartamento de duzentos e quarenta metros em Copacabana por módicos seis milhões de reais.
Era um senhor aposentado e falou para não contar com ele nos finais de semana. Nestes dias, poderíamos encontrá-lo num bar do Arpoador.
Enfim, andar um pouco de táxi pode ser muito educativo. Se aqui em São Paulo a moda é falar mal do Haddad e suspirar com saudades do Maluf, no Rio são histórias sobre o que o Eike construiu e deixou de construir e de brinde, inclusas no custo das corridas, muitas lições de vida.
Lucio, e tem outras vantagens na conversa com taxista; você se distrai, relaxa, não vê o trânsito caótico a sua volta e quando menos espera, chegou ao seu destino. Conversar para mim é como ler um livro,você mergulha na história ou na conversa, e assim o tempo passa….