Hora de mudar?

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Na loja de vinhos do bairro, aquela pequenininha que sabemos, jamais será grande, o dono, um sujeito fino com menos de 50 anos explica com carinho os rótulos que possui. Minha curiosidade é grande e pergunto se ele sempre trabalhou com vinhos. A resposta é não. Acabou de largar o mercado financeiro para se dedicar ao que gosta e fugir do estresse. “Vou ganhar um décimo do que ganhava”.

Nem todo mundo pode abrir mão de um emprego seguro e 90% dos rendimentos, mas curiosamente tenho visto muita gente agindo de forma parecida. A amiga que diz que vai parar de trabalhar um tempo e estudar para se tornar roteirista. A outra que abandonou a publicidade para terminar um mestrado e se tornar professora. O executivo que marca reuniões com os amigos empreendedores atrás de novas ideias porque não aguenta mais a empresa onde trabalha. O diretor de criação que larga uma agência multinacional para fazer hambúrgueres.

Me pergunto se isso é uma tendência, coincidência ou se eu, por estar vivendo a mesma inquietude existencial, comecei a reparar mais nestes movimentos.

Pode ser também que ao passar dos 40 anos isso aconteça mais comumente. Como meus amigos estão todos nessa faixa etária, então passa a ser normal que vários estejam em crise de meia idade, começando a gastar suas fichas na busca de uma realização não encontrada em vinte anos de vida profissional.

Não sei as respostas. Quem sou eu para saber?

Vejo pessoas saindo se São Paulo em busca de uma vida mais saudável e menos dispendiosa em cidades menores. Gente largando os carros para andar de bicicleta. Sinto mudanças e dúvidas.

Como viveremos numa das cidade mais caras do mundo se não acumularmos riqueza hoje? Como pagaremos nossos planos de saúde se vamos viver até os 85 anos e o mercado não se interessa por trabalhadores com cabelos brancos?

Por outro lado, será que aguentaremos 4 décadas de um trabalho que não nos satisfaz em nome das garantias para o futuro? Por quanto tempo pode-se repetir um trajeto diariamente, seja no aperto do metrô, seja na lentidão dos engarrafamentos para se sentir miserável em uma mesa de escritório por 10 horas e depois retornar pelo mesmo trajeto?

Como já disse, não tenho respostas. A única coisa que sei é que o caminho para a solução desta equação passa por tirar das costas certos pesos financeiros que se tornaram imprescindíveis nos dias de hoje.

Enquanto nossos pais, nos anos 70 pagavam a conta de luz, água e telefone, nós pagamos, além dessas, canais a cabo, celular, 3G, 4G, 4G do Ipad. Os smartphones custam mais que um aparelho de televisão e as pessoas os trocam anualmente, fora o que gastam com as capinhas.

As mulheres do mercado de trabalhos pagam verdadeiras fortunas para ter seus cabelos cortados, unhas feitas e para adquirir a infinidade de produtos de beleza que precisam.

Compramos carros a prestação que custam o dobro do que poderíamos bancar e ostentamos roupas pagando muito mais por isso do que americanos e europeus, com situações econômicas bem melhores que as nossas.

A conta simplesmente não vai fechar. Não sei quais as repostas para essa angústia que vejo nos olhos de tanta gente, mas uma coisa é certa, chegou a hora de repensar.

12 comentários

  1. Gostei Lúcio….Esse processo realmente é passível de angústia, dá para entender! Talvez muitos não gostem e certamente não compartilharão o que eu tenho a dizer: na minha experiência pessoal, me sinto infinitamente mais rico fazendo as minhas empreitadas das quais eu gosto e acredito, sem pressão externa para “fazer acontecer” senão as minhas próprias. Claro que máquina ($) precisa continuar girando, não sejamos sonhadores também!!!Mas precisamos da ostentação para ser felizes??Parafraseando aqui uma pequena frase de uma letra de música do Zeca Baleiro; “Vou trocar meu carro novo por um novo carro novo”. Esse é o sentido da vida?
    Eu ainda acredito que a riqueza maior para mim e que é intangível e imensurável, é ter a possibilidade de estar ajudando 200% na criação da minha filha em todos os dias de sua ainda curta vida de 2 anos e 2 meses. Não houve um dia sequer em que eu não tenha estado “lá” para qualquer coisa. Eu também, assim como você não tenho respostas para a pergunta-título do texto. No meu caso em particular, também não tive nunca nenhum arrependimento!!

  2. Sensibilizado e envolvido pelo seu belo texto, não posso responder as suas perguntas, mas posso relatar o que sinto :

    Saco cheio do Brasil, saco cheio do trânsito e da violência de São Paulo, cansado da política da roubalheira, de ter que puxar o saco para ser alguém na empresa ou a voz do coração ?
    Apenas mais do mesmo, problemas do cotidiano, da modernidade, dos dias de hoje, mas não estou falando de hoje … já são 18 anos morando em Itatiba e esses problemas, esses anseios e essas perguntas já existiam .
    Optei pela mudança !

    Compartilho o perfeito comentário do Carlos Eduardo !

    Claro que tive medo do imponderável, do ” tiro no escuro “, mas mesmo assim resolvi arriscar, ciente de que ganharia ” um décimo do que ganhava”. Você me conhece há anos, 33 para ser exato e sabe que não sou adepto a ostentações e ao glamour da vida noturna, muito pelo contrário e isso com certeza, foi um facilitador para a mudança do cidadão do banco de investimentos, para o cidadão micro empresário, em uma cidade pacata, para levar uma vida pacata.

    E tchau terno, tchau trânsito, tchau 15 min de almoço, tchau stress por resultados, tchau violência ( que vai chegar aqui inevitavelmente ).

    E olá bermuda, olá 7 min para chegar em casa, olá 2 hs de almoço, olá low profile, olá andar na praça às 22 hs ( esperto !! )

    Mas a decisão final foi sim, a voz do coração, não aquela dizendo sobre o risco, mas sim dizendo sobre o amor. Ainda não tinha as crianças e junto à Nadia, elas provam hoje, todos os dias, que a decisão foi mais do que acertada.

  3. Obrigado prezado amigo Marcos!!! E obrigado por ter postado teu comentário altamente inspirador. Certamente me faz repensar tb. todo o meu conceito de vida….Sucesso, amigo!!!

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