Assisti com imenso e imperdoável atraso o filme “Her” do Spike Jonze e confesso que diante de tantos elogios e críticas positivas que li e ouvi, ele acabou não superando minhas expectativas. Muito embora há de se admitir que a fotografia, a trilha e a direção de arte são de tirar o chapéu.
Nem vem ao caso falar dos aspectos que menos gostei, afinal, o filme faz pensar sobre a solidão e esse é o tema desta pequena crônica.
Theodore, o personagem principal vive num futuro próximo, é um homem solitário e se apaixona por seu sistema operacional. Para quem não sabe o tal sistema fala com a voz sexy da Scarlett Johansson, é inteligente, sagaz e divertido.
Digamos que não é preciso de muito para se apaixonar por qualquer parte da Scarlett Johansson. Eu me apaixonaria até pelo joanete dela. Mas isso não vem ao caso. Algumas críticas que li falaram sobre a relação homem máquina ou sobre a realidade artificial.
Não deixa de ser verdade, mas o jeito mais interessante é ver o filme como uma metáfora da nossa solidão contemporânea, em que substituímos o contato físico com as pessoas por um contato intermediado por equipamentos, e de certa forma nos apaixonamos por esses dispositivos.
Atire a primeira pedra quem nunca deixou de sair e acabou ficando em casa, grudado em seu smartphone vendo as fotos de pessoas que efetivamente saíram.
E não é necessário ser sozinho para viver esse tipo de solidão. Podemos vivê-la em um bar, onde nosso supostos companheiros de copo estão todos mais interessados no que acontece nas redes sociais do que na conversa da mesa.
Podemos viver a solidão em família, em nossa sala de estar, quando cada um dos filhos conversa em seus grupos de Whatsapp, a mãe curte fotos no Instagram e o pai troca de canal em silêncio revendo documentários sobre estradas no Alasca e pescadores de atum.
Não é a toa que surgem tantas inovações para solitários: Sites pornográficos, sistemas de encontros, chats com desconhecidos, aplicativos que na verdade não ajudam ninguém a deixar a solidão, apenas criam a ilusão de que estamos menos sozinhos. A voz sensual do computador não passava uma ilusão de companhia.
Minha filha ainda está longe do mundo virtual. Suas relações com amigos são extremamente físicas, envolvem abraços, saltos, correrias, gritos e brinquedos de verdade. Eu, na condição de nostálgico doentio tenho inveja dela, enquanto aguardo que os “joinhas” deste texto me passem uma ilusão de carinho e pertencimento.