Quando eu era criança fazia sucesso uma música que dizia:
Felicidade é uma cidade pequenina
É uma casinha, é uma colina
Qualquer lugar que se ilumina
Quando a gente quer amar
Eram tempos quase ingênuos se comparados com os de hoje. Elis Regina sonhava com “uma casa no campo para compor rocks rurais”, Caetano pedia “dinheiro não, mas elegância”, Gilson queria “simplesmente, um lugar de mato verde, pra plantar e pra colher.”
Seriam as pessoas mais simples? Será que nos anos 70 almejávamos uma felicidade bucólica, correndo por colinas gramadas tal qual Marília de Dirceu?
Hoje tenho a impressão que complicamos tudo. Até a tal felicidade. Em primeiro lugar, damos muita importância a ela. Quando na história, a busca pela felicidade foi tão valorizada? Imagine no idade média, os camponeses ingleses preocupados em escapar de ataques vikings enquanto enterravam os mortos da peste negra. Será que dava para pensar em largar tudo para ser feliz? Podemos avançar para a revolução industrial quando as homens, mulheres e crianças trabalhavam 16 horas por dia em fábricas imundas, a felicidade poderia ser sonhada neste contexto? E no Brasil, será que os escravos pensavam em algum tipo de auto-realização entre uma e outra chibatada?
Pois chegamos num tempo diferente em que no lugar de vikings nos ameaçando temos programas femininos de TV onde psicólogos falam de caminhos para encontrarmos nosso “eu interior”. A depressão virou a nova peste negra e as livrarias estão repletas de títulos que nos ensinam a ser felizes.
Mas ao que parece, quanto mais nos ensinam, mais difícil fica. Nos anos 70 precisávamos apenas de uma casinha pequenina e alguém a quem amar, hoje queremos mais. A casinha pequenina precisa de espaço para o terraço gourmet, a mulher que amamos tem que ser amiga, parceira, boa profissional, supermãe e nos satisfazer sexualmente como uma gueixa treinada (o mesmo vale para os homens, pobre de quem não prover a patroa com orgasmos múltiplos quatro vezes por semana). O cinema e a publicidade nos mostraram um padrão de felicidade utópica que simplesmente não somos capazes de atingir.
E ainda há a competição covarde das redes sociais. Abrimos o aplicativo no aperto do metrô e vemos pezinhos nas praias, check-ins em aeroportos, casais apaixonados, crianças prodigiosas, pratos de comida maravilhosos, metas atingidas, vitórias gloriosas, sucessos colossais. Como comparar isso com nossas vidas medíocres onde enfrentamos unhas encravadas, encanamentos quebrados, ligações para a o telemarketing da NET, discussões de relacionamento, inseguranças e o medo de não sermos extremamente admirados?
Não sou um psicólogo de programa da tarde para saber a solução mas algo me diz que quanto menos pensarmos na felicidade como uma meta a ser atingida mais fácil será alcançá-la. Imagino ainda que tudo começa em fazer o que nos dá prazer ao lado de quem amamos. Simples como uma casinha branca e pequenina.
* Na foto uma família nos ensinando a ser perfeitamente felizes.