Na minha opinião

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Como minha opinião é importante. Nada é mais valioso do que ela. independentemente do que falem, pensem ou escrevam, nada é completo sem minha opinião. Mas nem sempre foi assim.

Antigamente, coitada, a minha opinião vivia guardada. Morava calada na cachola, saindo vez ou outra nas aulas da faculdade quando o professor apontava pra mim, minutos depois de eu ter levantado a mão.

Era tímida, precisava de umas doses para tomar coragem nos botecos, onde convivia com opiniões de amigos também bêbados, nas discussões infindáveis regadas a cerveja barata.

Mas recentemente, vejam só, minha opinião ganhou armas.

Primeiro foram os e-mails. Minha opinião podia confrontar suas companheiras a qualquer hora, em qualquer lugar, ela começava a gostar de viajar transformada em códigos binários, refutando a opinião dos meus amigos. O boteco tornara-se virtual.

Minha opinião ficou ainda mais sóbria quando surgiram os blogs. O que se escrevia em um blog era público, qualquer um podia ler, portanto, minha opinião lá parecia importante, ela precisava ser cuidadosa, fazer sentido, ser bem exposta. No meu blog*, minha opinião chegara ao seu auge até então.

Mas nada se comparava ao que viria a seguir.

De repente a evolução nos leva às redes sociais e minha opinião se assanha. Agora sim ela é a rainha do baile! Ela pode confrontar todas as opiniões e aparecer como nunca antes. Alguém comenta o cardápio de um restaurante e lá está a minha opinião para dizer que conheço outro melhor. Alguém diz que foi pênalti contra o São Paulo e minha opinião contesta com veemência. Um jornalista defende a ação de um determinado político e minha opinião aparece para atacá-lo.

Qual o melhor meio de transporte em São Paulo?

Com quantos anos um jovem pode ser condenado a prisão?

A pena de morte na Tailândia é justa?

O Rogério Ceni deve se aposentar?

Qual a posição da população Grega na crise?

O Cunha respeitou o regimento?

Terceirização, atualização do Iphone, Lava a Jato, ajuste fiscal, racismo, feminismo, sexismo, terrorismo… Agora eu entendo de tudo, eu falo de tudo e ninguém sabe mais do que eu. Sim, existem outras opiniões, mas só me interesso pelas iguais as minhas. As outras são ideias de pulhas, pessoas sem caráter, aproveitadores ou imbecis. Viva a minha opinião, a onipresente, a preponderante, a melhor e única com a qual eu concordo em todas as situações.

PS. Gostou do texto? Compartilhe com os amigos. Não gostou? Problema é seu, sua opinião não importa mesmo…

* Meu blog há uns 10 anos se chamava Quatro Acordes, foi criado pelo Adalberto “Azalba” Martins e tinha outros colaboradores como o Adriano “Picareta” Fernandes, o Marcelo “Psycho” Junqueira e o Edson “Coke” Júnior.

Fiquei curioso e googuei o Quatro Acordes e ele está lá, preservado no espaço virtual, com nossas opiniões discordantes congeladas há uma década. Para vê-lo é só clicar aqui.

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