Viver de amor

Amor de avó

Ah, o sonho dos apaixonados! Viver de amor.

“Não precisamos de nada, se estivermos juntos teremos um ao outro e é o que importa”

Quem acredita nisso? Talvez os adolescentes. Nós adultos sabemos que a vida não é bem assim. Ela nos cobra muito mais do que amor e os relacionamentos idem. Passa o tempo e ficamos cínicos. Há quem acredite que um companheiro razoável que divida as contas e seja limpinho valha mais que uma paixão avassaladora.

Acho que até pouco tempo eu tinha uma opinião formada. Acreditava que era impossível “viver de amor”.

Mas mudei de opinião nas últimas semanas observando minha avó que acabou de fazer 90 anos.

Percebi que com o tempo, para ela, a maioria das coisas perdeu importância. Ela não tem força para longas caminhadas e não pode sair andando por aí. Viagens ou compras são muito difíceis e acabam sendo evitadas. Ela quase não ouve, mesmo com o aparelho de audição e é comum que se desinteresse pelas conversas ao seu redor.

Não se importa com as novidades das novelas, não quer saber se o Janot denunciou o Cunha e está se preocupando cada vez menos com os pequenos problemas que povoam as conversas de família em almoços dominicais.

Basicamente, minha avó se interessa em abraçar e beijar as pessoas que ama o máximo possível e em externar o quanto gosta de todos.

Ela não era uma avó particularmente carinhosa na minha infância. Era daquelas que governavam a casa e as panelas com primor, sua torta de maçã e seu Gefilte Fish eram épicos. Gostava de todos e sempre foi uma boa avó. Mas estava mais para uma regente do lar do que para uma ilustração de Norman Rockwell. Super detalhista no orçamento familiar, sempre teve uma calculadora na cabeça e era atenta às necessidades de cada membro da família.

Agora, em seu mundo de silêncio, vive de beijos e abraços, absolutamente feliz com cada contato que tem conosco e com as poucas amigas sobreviventes.

Sorte dela poder viver de amor. Espero que cada um de nós alcance esta etapa da vida com um pouco de saúde e estando próximos aos que realmente importam. Pois tenho certeza que nessa idade, curtidas no Instagram de nada nos valerão.

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