O Dia em Que o Whatsapp Parou

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Manu acordou e logo puxou o celular que estava no criado mudo para ter certeza de que não era um pesadelo: O Whatsapp não funcionava.

Na noite anterior aguardara com ansiedade o horário previsto para a interrupção do serviço, ainda com esperanças de que tudo não passasse de um boato. Infelizmente era verdade e nada podia fazer.

Chegou a mesa do café sentindo uma angústia difícil de explicar. O rádio dava as notícias da manhã, incluindo a da liminar que proibia o aplicativo. Seus pais conversavam como todos os dias, falando do trabalho ou da programação do final de semana. Manu segurava o celular, com vontade de ler os “bom dias” dos amigos e de ver ícones de rostos sorrindo, mas isso não aconteceu.

Entediada, começou a observar o movimento da cozinha enquanto comia. O pai falava gesticulando, levantava-se para preparar novas torradas, exibia seu sorriso matinal. A mãe limpava migalhas que caiam a mesa e usava o reflexo da garrafa térmica como espelho para ajeitar os cabelos. Era nítido o carinho de um pelo outro e Manu nunca tinha reparado nisso.

Mais tarde, no ônibus a caminho da FAAP, Manu pensou que o tédio ia matá-la. Segurava o celular como se o calor da mão pudesse derrubar a decisão judicial e sem melhores alternativas passou a prestar atenção no caminho. O Pacaembú era um bairro bonito, árvores frondosas, casas antigas e o velho estádio. Percebeu nos prédios alguns estilos arquitetônicos sobre os quais estava estudando.

Na faculdade, a luta contra o tédio continuava, sentiu-se obrigada a acompanhar o que os professores diziam nas aulas.

Mesmo com os amigos, a conversa era diferente. Claro que o assunto era o Whatsapp, mas as pessoas falavam de um jeito esquisito, olhando umas para as outras, respondendo, prestando atenção. Por um momento teve a impressão de que nunca havia visto os olhos de certas pessoas. Fazia parte de um grupo habituado a olhar para baixo.

Na volta pra casa decidiu ler no ônibus, coisa que não fazia há tempos. Estava encalhada no  100 Anos de Solidão. Gostava do livro mas não encontrava muito tempo para ele.

Só que não conseguiu ler nem duas páginas. Um aviso sonoro vindo do Iphone revelou que a liminar havia sido cassada. O Whatsapp ressuscitara. Guardou o livro na mochila e começou a mandar rostinhos felizes para todos os grupos.

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