Lili, a engajada

women-safety.jpg

 

Lili sempre foi assim e ninguém sabe dizer a origem desse comportamento. Desde criança defendia os fracos e oprimidos. Uma vez bateu num menino que havia atirado uma bombinha num gato. E ela nem gostava de bichanos.

A família de Lili era muito tradicional, o pai, funcionário da Câmara Municipal, a mãe, dona de casa. Os dois frequentavam a igreja e deram uma educação católica exemplar para os filhos. Porém, Lili, para desespero de todos, já na adolescência repetia que a religião era o ópio do povo.

Depois veio o curso de Ciências Políticas na PUC, a participação na UNE, na juventude do PCB, o concurso que a colocou na secretaria de habitação do Estado, o casamento com um colega de partido, o divórcio e o apartamento em Santa Cecília, onde nas noites depois do trabalho, enfrentava batalhas nas redes sociais.

No Facebook atacava os pais das amigas que compartilhavam frases do Bolsonaro e pediam a cabeça de Dilma. Depois publicava textos defendendo índios do Mato Grosso, a agricultura familiar e os palestinos.

Porém, seu ambiente predileto era o Twitter. Lá passava noites de insônia replicando as análises do Luis Nassif e batendo boca com os reacionários. Adorava discordar de tudo o que diziam Ricardo Amorim, Danilo Gentile, o Antagonista e principalmente o Lobão.

Seus amigos e colegas de trabalho sabiam de seu engajamento virtual mas não se incomodavam, até porque fora das redes Lili não se mostrava tão exaltada e era uma ótima companheira de bar.

Até por isso todos se preocuparam quando ela faltou ao trabalho sem avisar. Não atendia as ligações, não respondia às mensagens. O desespero só não foi completo porque o irmão percebeu que ela continuava publicando textos e entrando em discussões nas redes sociais.

Só que ela não respondia qualquer mensagem direta nas mesmas redes. Só respondia provocações .

Para testar, o pai colocou uma charge do triplex do Lula e ela defendeu o ex-presidente imediatamente. A irmã postou um texto sobre o direito dos refugiados trangêneros e lá estava ela compartilhando.

Porém, como não respondia diretamente a ninguém, tentaram ir ao seu apartamento. Lili ignorou o interfone e as batidas na porta. Assustados os familiares e amigos recorreram à polícia.

Dias depois, na clínica onde foi internada, o psiquiatra ainda tentava entender o tipo de surto que a atacou. Quando arrombaram sua porta ela agia como um zumbi diante do computador e não respondia a nenhum estímulo que não fosse de natureza política.

Na ambulância, antes dos remédios a apagarem por completo, ainda falava de forma confusa:

_ Pelo empoderamento da mulher negra, cotas nas universidades, ocupem as escolas, direito ao aborto, maldito eucalipto transgênico…

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s