Giovanni decidiu ficar um pouco mais no bar depois que os colegas saíram. Haviam comemorado uma decisão favorável a um cliente que lhes garantiria um belo prêmio. Giovanni coordenara toda a estratégia de defesa e tomava seu último drink com a alegria do piloto que estoura champagne quando viu Valéria bebendo no balcão.
Era daqueles bares escuros que combinam mais com martinis do que com cerveja. Valéria olhava de volta enquanto alisava com os dedos uma taça de Manhattan.
Giovanni pegou seu Negroni e parou ao lado dela.
_ Se incomoda se eu ficar aqui?
_ De jeito nenhum – Ela tirou os cabelos que cobriam parte do rosto e apresentou-se – Prazer, Valéria.
_ Eu sou Giovanni.
Ambos estavam fascinados pela beleza do outro.
Se você não se incomodar – Ele falava enquanto puxava uma folha impressa do bolso do Blazer – eu gostaria que você assinasse esse termo antes de qualquer conversa.
Ela assustou-se, mas pegou o papel curiosa, reparando no timbre do famoso escritório jurídico. Tratava-se de uma autorização.
Eu ____________________________, portadora do RG n.º _____________, inscrita no CPF/MF sob o n.º _________________, residente e domiciliada a rua ____________________________________ , autorizo Giovanne Barros Magalhães, portador do RG n.º12.236.265-6, inscrito no CPF/MF sob o n.º 126.125.963.2, residente e domiciliado a al. Itu no. 42 apto 206 a conversar comigo.
Declaro que esta conversa começou de forma consentida e estou ciente que podem surgir intenções de paquera ou interesse para futuro relacionamento.
Declaro ainda que o presente termo não implica em um compromisso amoroso atual ou futuro, podendo a conversa ser interrompida sem explicação prévia por qualquer uma das partes sem prejuízo para ambos e sem necessidade de desacordo por escrito.
No final havia um espaço para datas e assinaturas.
Valéria mal conseguiu disfarçar o espanto enquanto Giovanni explicava.
_ Eu sei que parece estranho, mas eu sou advogado e já vi amigos e clientes passando por poucos e boas. Eu me sentiria melhor se você assinasse. Faz parte das paranóias da minha profissão.
Valéria teria interrompido a conversa se Giovanni não fosse tão bonito. Além disso, ela era consultora de RH e tentava fechar um contrato com o escritório dele havia meses. Se a paquera não desse certo, poderia ser um ótima oportunidade de network. Assinou o papel com uma rubrica qualquer e meteu-se na conversa um tanto desanimada pela atitude esquisita do rapaz.
Porém, passados uns minutos e uns goles, as afinidades começaram a aparecer. Ambos eram fãs do George Harrison, de desenhos animados antigos e dos livros da coleção Vagalume.
Falaram da infância, de trabalho, de relacionamentos que não deram certo e não demorou para o olhar de cada um puxar o do outro como se houvessem imas em suas córneas.
Quando entrou no carro dele, Valéria já havia se esquecido completamente do termo que assinara. Beijaram-se no primeiro semáforo e quando pararam em frente ao prédio onde morava ela o convidou para subir.
Então ele sacou mais uma autorização parecida com a primeira, em que ela confirmaria por escrito que o sexo seria consentido e não havia sofrido nenhuma pressão ou constrangimento para ir para a cama com ele.
Irritada, Valéria desceu imediatamente do carro, bateu a porta e entrou sem olhar para trás. Giovanni sentiu-se muito mal, sabia que havia perdido uma mulher incrível, mas não tinha o que fazer, eram novos tempos e não poderia correr riscos. Voltou pra casa resignado, sem qualquer arrependimento.