Pessach e a Liberdade

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Chegamos a festa de Pessach, a Páscoa judaica, quando lembramos a fuga do Egito, evento que definiu os judeus como povo.

O tema central da festa é a liberdade e por coincidência, este ano, Pessach cai praticamente junto com o feriado de Tiradentes, o mártir assassinado quando lutava pela independência do Brasil.

Talvez haja algo em comum entre os dois libertadores além  das espessas barbas e do fato de ambos estarem em novelas no horário nobre.

Eles representam um conceito tão intuitivo, mas ao mesmo tempo de significado tão amplo.

Quando os judeus deixaram o Egito eles não precisavam mais obedecer as normas do Faraó opressor, nem trabalhar carregando pedras nas obras das pirâmides. Porém, logo na saída receberam a Torah, seu código de conduta com uma infinidade de leis a serem seguidas (se fossem só os 10 mandamentos seria moleza).  Não se pode comer um monte de coisas gostosas e não se pode fazer tatuagem. Há regra para se vestir, para casar, para criar os filhos, há inúmeras restrições. Que raio de liberdade é essa?

Tiradentes não viu o Brasil livre da opressão de Portugal. Foi executado trinta anos antes da Independência quando o Brasil livrou-se das amarras lusitanas. Ainda hoje, quando eu vejo as pessoas se amontoando nos trens para viajarem duas horas e chegar a um emprego que detestam, eu me pergunto – “Essas pessoas são livres”?

Será que somos livres quando trabalhamos mais de 4 meses no ano só para pagar impostos? E quando nos metemos em prestações que restringem nosso orçamento?

Questões difíceis. Não pensem que trago a resposta no bolso.

Talvez a verdadeira liberdade seja um estado de espírito, seja encontrar no mundo cheio de regras nosso valor individual, o que nos diferencia, o que nos completa. Talvez encontremos a liberdade dando sentido a tudo o que fazemos, lutando para manter a dignidade e nossos valores mesmo quando a situação nos leva na direção contrária.

Os judeus acreditam que nunca saímos do Egito completamente. Dentro de nós há sempre um faraó louco para nos escravizar e que a festa de Pessach é uma ocasião para enfrentarmos esse faraó e avançarmos na nossa libertação individual.

Hoje, 3.500 anos depois da saída do Egito e 220 anos depois da morte de Tiradentes, o mundo continua cheio de armadilhas contra a liberdade. Gente que mata quem pertence a tradições diferentes. Gente que tenta restringir nosso direito de pensar. Atire a primeira pedra quem nunca viu um censor nas redes sociais.

Continuemos nossa luta. Uma luta árdua e individual pelo direito de escolher nossos caminhos e para entender pelo menos um pouco mais o significado dessa palavra aparentemente tão clara: Liberdade.

 

 

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