Eu não sou estuprador

 

cultura do estupro

Observei em silêncio (até agora) a discussão levantada após o gravíssimo crime em que 30 rapazes são suspeitos de estuprar uma garota de 16 anos. Digo suspeitos pois  todos os jornais usam esse termo até a condenação dos indivíduos. Eu gostaria mesmo de chamá-los de bandidos. Não o farei. Vamos agir com cautela.

A principal novidade na discussão foi o surgimento de uma expressão que eu não conhecia: “Cultura do Estupro”.

(me perdoem se eu escrever estrupo, eita palavrinha que quer pegar a gente)

Aparentemente, nós brasileiros, somos educados para sermos estupradores ou para assediar as mulheres. O “Toda Unanimidade” já tocou num assunto parecido duas vezes (aqui e aqui). Só que eu estava preocupado com o Assédio, que também é uma violência, porém menos assustadora.

Como sempre, tenho dificuldade em aceitar as coisas como me dão.

Quer dizer que o crime do qual falamos é parte da cultura brasileira?

Pode ser que seja parcialmente verdade, mas há outros aspectos nessa história que gostaria de tratar.  Me parece que encerrar a conversa na “Cultura do estupro” é insuficiente.

Perdoem meus amigos de esquerda, mas serei conservador na sociologia de boteco que exponho abaixo:

A Cultura da glamourização do crime

A jovem violentada aparentemente gostava da companhia dos suspeitos que vieram a atacá-la. Não é a única. Nos bailes funk os rapazes com metralhadoras são símbolos de poder atraindo a atenção das moçoilas.

Isso não parece um privilégio brasileiro. Embora muito do funk defenda o crime, não o faz com tanto brilhantismo como a americana Rhianna.

Se você tem estômago fraco, pule. Nesse vídeo feito para adolescentes (86 milhões de acessos), Rhianna abusa e tortura uma mulher dopada. Não sei a opinião de vocês, mas que bem faz a exibição disso para adolescentes? Como mostrar que a companhia de traficantes armados não é uma boa se o a Rhianna mostra justamente o contrário?

 

A Cultura da Sexualização da infância e da Adolescência

Evoluímos. Hoje não é pecado uma adolescente ter desejos. Ela não precisa mais lutar contra eles e pode ter auxílio e orientação na escola, de médicos e dos pais para iniciar a vida sexual (levando-se em conta as diferenças da nossa sociedade desigual).

Porém há uma diferença entre começar a vida sexual aos 16 anos e deixar o filho de 3 em casa e frequentar orgias na mesma idade. Obviamente, a adolescente de que tratamos não tinha maturidade emocional para tudo o que passou. Não é bacana ser mãe aos 13. Não é legal tratar o sexo como banalidade quando deveria se estar sentindo todas as maravilhosas emoções da adolescência.

Não digo que a garota é culpada por isso. Ela é vítima, assim como são vitimas as milhares de crianças que engravidam antes dos 14 anos no Brasil.

Não me lembro de estímulos sexuais na minha infância, mas desde o momento em que a Xuxa passou a se vestir assim num programa infantil, algo saiu do controle.

xuxa.jpg

Com o tempo, continuamos estimulando a sexualidade precoce das crianças com a Dança da Garrafa ou com as novas cantoras americanas.

Katy Perry fez esse vídeo odiável (289 milhões de visualizações) em que atrai crianças com um visual infantil quando mostra uma relação sensual de uma garota nua (interpretada por ela) e um homem vestido de cafetão. Tudo no cenário mistura símbolos fálicos travestidos de objetos infantis

 

A Cultura da objetificação da mulher.

Alguém pode me explicar por que os ídolos adolescentes homens se vestem assim:

maroon-5-stock-images.jpgEnquanto as cantoras teen se vestem e agem assim?

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Dizem que tem a ver com a liberação feminina. Eu tenho minhas dúvidas. Acho que Miley Cyrus e suas pares agem da forma a aumentar os lucros da indústria do entretenimento. Por muitos dólares, jovens ensinam que o corpo e a sexualidade são o caminho da mulher para vencer na sociedade.

A Cultura da objetificação também pode ser notada no verbo que se usa para a paquera. Os jovens não “ficam” mais. Eles “pegam”. Afinal, o parceiro é um objeto.

 A Cultura da Banalização do Sexo

Em nome da liberdade sexual e de vencer as amarras da sociedade as mulheres estão aprendendo com os homens o que eles tem de pior. Elas banalizam o sexo.

Vejo o sexo como algo magnífico e espiritual. Mas os jovens não veem assim. Transar é tão corriqueiro como escovar os dentes ou falar com os amigos. É libertador por um lado, mas por  outro, me pergunto se adolescentes tem maturidade para enfrentar o turbilhão de hormônios e sentimentos que tudo isso envolve.

Será que não era mais legal no tempo em que uma transa representava um friozinho na barriga? Cada etapa de aproximação e intimidade era uma conquista com qual se sonhava a noite? Perdoem o ar nostálgico e a caretice.

Novamente, não vejo as garotas como culpadas dessa situação, mas vítimas.

Conclusão

Não vou vestir a carapuça da “Cultura do Estupro”. Me recuso a ser comparado com traficantes que empunham metralhadoras nos bailes funk. Eles não respeitam a vida dos outros, era de se imaginar a forma com que tratam a mulher.

Vi essa semana como Danilo Gentile, Alexandre Frota e anúncios de moda incentivam o estupro. Porém, não acredito que os trinta traficantes armados (como descreveu a vítima) sejam influenciados  por uma propaganda da Dolce e Gabbana na Vogue.

Precisamos repensar nossa sociedade em termos de valores e a forma com que os meninos são educados não pode carregar sozinha o ônus desse terrível desarranjo.

 

 

 

 

 

2 comentários

  1. Você não é, assim como a maioria, felizmente. Concordo com seus argumentos. Vivemos tempos extremos na direção contrária à repressão que as mulheres já sofreram. Sim, você tem razão em muitas coisas. Talvez a expressão “cultura do estupro” esteja incomodando pessoas do bem, mas esse é o papel dela. Só chamando a atenção, chocando, indignando até é que foi possível evidenciar tanto a questão envolvida. Estupro vai bem além do ato em si. É o machismo nosso do dia a dia. Por essa expressão feia e generalizada estamos aqui falando sobre um assunto que ainda tem muito para evoluir. Que bom que estamos fazendo isso.

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