Trump e a justiça divina

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Não é preciso grande esforço para odiar Donald Trump. A cabeleira ridícula, o discurso de ódio, a arrogância. Parece que o novo presidente nasceu para provocar nossos piores instintos.

Eu poderia passar dias e dias descrevendo motivos para não gostar dele.

Só que a minha pouca produção recente do blog indica que não tenho dias e dias disponíveis, muito menos para elencar defeitos do novo sultão planetário.

Apenas tratarei do que mais me incomoda. Um ponto que mesmo você, caro leitor, não havia percebido.

Afirmo que muitos aqui, sem saber, torciam contra Trump pois a derrota do empresário tornaria mais plausível sua fé em Deus.

Como assim?

Sei lá por qual motivo, somos equipados com um mecanismo mental que nos faz desejar  uma justiça metafísica que pune os maus e premia os bons. Temos uma tendência a achar que o universo ajuda o goleiro defender o pênalti roubado, que faz a mulher traída encontrar um novo namorado mais bacana, que adoece o político malvado e assim por diante.

Às vezes, os fatos nos levam a crer que esta justiça das coisas, ou justiça divina (para simplificar) existe como nos filmes: Nosso primo que perdeu o emprego e era perseguido pelo chefe conseguiu um trabalho melhor enquanto o chefe está desempregado; aquele amigo que lutou como um louco para passar num concurso conquista a magistratura; Rogério Ceni ganha um título. A realidade se encaixa como uma luva em nosso sistema de crenças. Os fatos gritam para quem quiser ouvir “Seja bom e o universo o recompensará”, “A energia boa que você libera volta para você!”.

Lindo, não é mesmo?

Seria, não fosse a realidade que derruba o avião dos Mamonas, que leva cedo o Gikovate, que arranca a perna do João do Pulo, que incendeia o museu, afunda o Titanic, derruba o helicóptero do Ulisses, surpreende a Clara Nunes, engasga o John Bonhan, amassa James Dean no poste.

Trump é fruto desta mesma realidade cruel. Ele foi desonesto ao longo da vida, humilhou as pessoas, tratou mulheres como objetos, usou a grana que acumulou, para divulgar suas ideias de ódio, de divisão, isolamento. Ao ganhar as eleições para comandar o planeta, Trump nos lembra de que Deus não age como se espera dele. Ele nos lembra que as regras do universo fogem da lógica simples e confortável de que o bem tráz o bem.

Mais difícil do que ver nosso inimigo no poder é ver nossas convicções na lama. Este é o primeiro legado de Trump como presidente. Ele roubou nossa fé.

 

 

2 comentários

  1. Rss… não com essas palavras, mas eu estava com o pensamento nessa linha… depois de Temer, Dória e Crivella, nossa revanche seria a derrota de Trump. Seria a prova de que alguma coisa em algum lugar ainda pode dar certo e acontecer de maneira mais lógica. Mas parece que nossa fé no happyend da vida é testada muito além do que nossa imaginação permite. Não estou decepcionado, irado, chateado, triste, desanimado ou algo que o valha… estou procurando a bússola!

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