Marli estava ansiosa, precisava chegar em casa a tempo de ver Camila acordada. A menina, em fase de tirar as fraldas, não via a mãe todas as noites.
Era comum Marli ficar até mais tarde no banco. Verificava planilhas, refazia cálculos. Quando tinha uma apresentação importante passava horas revendo o Power Point e treinando suas falas.
Miguel, o marido, estava acostumado. Dono de uma loja de pneus, sofreu um pouco no começo com as ausências da esposa. Depois, porém, passou a se acostumar com o conforto material que os bônus de Marli proporcionavam.
A primeira vez que o bônus superou os cem mil reais foi comemorada em Paris, na segunda vez, Marli já estava grávida.
Camila crescia menos rápido do que a fama da mãe no banco. Impiedosa com a equipe e obcecada por detalhes, Marli brilhou em todos os projetos que se envolveu.
Ao chegar em casa naquela noite, deu com Miguel saindo do quarto de Camila. A menina acabara de dormir. Ele fez sinal de silêncio com o dedo indicador em frente aos lábios e a chamou para comer algo. Ela o beijou na bochecha e disse que precisava trabalhar um pouco. Pegou um pacote de Pringles e abriu o notebook.
Ele, cansado de esperar por companhia, ficou em pé ao lado observando-a entrar no LinkedIn.
_ Faz duas semanas que você faz isso toda a noite.
_ É importante. Preciso saber o que está acontecendo no mundo. No banco eu não tenho tempo para nada.
_ O LinkedIn não é o mundo – Retrucou Miguel contrariado.
_ O mundo é o que você vai conhecer se eu não perder o foco.
Miguel saiu de mansinho, pegou outro pacote de Pringles e foi ver futebol na TV.