Quando levei minha filha para ver Zoofilia na Rouanet

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No ano passei levei minha filha, então com 10 anos, para o Anima Mundi, o maior Festival de Animação do Brasil na Cinemateca. Patrocinado pela IBM através da lei Rouanet. O Anima Mundi tem diversas sessões de curtas metragens do mundo inteiro e oficinas onde as famílias fazem mini filmes com animação de massinha. Um programa gostoso, cultural e gratuito.

Porém eu cometi um erro. Entrei com a minha filha numa sessão sem ler de que se tratavam os filmes. Eram 6 curtas. 4 sobre morte e 2 sobre sexo. Não era uma sessão infantil.

Os filmes sobre morte eram lindíssimos. Os filmes eróticos eram totalmente inapropriados para minha filha. Um deles terrivelmente inapropriado. Envolvia zoofilia. Pra piorar, convidei um casal de amigos para o programa e eles levaram um filho de 10 anos.

Durante a sessão, as crianças fecharam os olhos enquanto eu, coberto de culpa, me ajoelhava no milho pedindo perdão aos amigos. Fiquei chateado.

Depois tive uma conversa com a minha filha e expliquei que o filme era inadequado para a idade dela e tratava de uma pessoa com desequilibrio sexual. Dito isso, as crianças continuaram brincando e a vida seguiu normalmente.

Evidentemente a organização errou ao não deixar um aviso sobre o conteúdo adulto da sessão. Pensei em mandar um e-mail com uma reclamação. Acabei esquecendo.

Quem vai a muitas exposições acaba correndo alguns riscos.

No Museu Dorsay, em Paris, fiquei constrangido ao entrar com minha filha na sala onde estava a obra “A Origem do Mundo” de Coubert. Algumas obras da mostra de Marina Abramovic também exibiam nus. Mas minha filha nunca se importou.

Ontem visitamos o Sesc 24 de Maio e havia uma instalação lembrando a operação Camanducaia, que eu nem sabia ter existido. Eis aqui na foto que fiz, um resumo da operação.

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Em 1974 o exército e a PM prenderam 300 crianças e adolescentes (alguns com 9 anos). 93 deles, depois de torturados, foram levados de ônibus a Camanducaia – MG e soltos à beira da estrada, no meio da noite, nus e sem um tostão. 55 crianças desapareceram para sempre.

Minha filha ficou muito assustada. É difícil explicar para uma criança que adultos agem assim. Seria mais difícil explicar que há brasileiros sonhando com a volta ao poder dos assassinos dessas crianças.

Eu mesmo não entendo como a operação Camanducaia ofende menos do que o peladão do Museu.

Um dia, ela vai aprender que o amor ofende mais do que as armas e que a verdadeira guerra do mundo é entre ódio e amor. Prefiro não procurar entender. Me limito defender o amor  sempre. Mesmo sabendo que os militantes do ódio estão ganhando a guerra.

 

6 comentários

  1. Excelente texto! Não vamos perder a esperança, que o amor vença! Cheguei aqui pelo Pablo Villaça – de quem sou fã – e adorei suas ideias! Parabéns!

  2. SEMPRE EDUQUEI MEU FILHO PARA O AMOR E CONTRA QUALQUER TIPO DE VIOLÊNCIA, SE O AMOR PERDEU ESPAÇO NO MUNDO EM GERAL, PODEMOS FAZER COM QUE ELE VENÇA NO NOSSO MEIO, O RESULTADO É QUE MEU FILHO SE TORNOU UM HOMEM RESPEITOSO E AMOROSO COM AS PESSOAS, OBRIGADA PELO TEXTO EXTRAORDINÁRIO, ESTE TEMA DARIA UM CONGRESSO.

  3. Me preocupam os extremos a Liberdade que vira libertinagem e o excesso que vira censura indiscriminada e fundamentalismo. Acho que a solução está na terceira via, o caminho que respeita o espaço do outro, que debate sem ferir. Sim há filmes, peças, obras de arte inadequadas para crianças e para pessoas sensíveis, sim há monstruosidades se passando por obras de arte, mas não é a censura que vai resolver, é o dialogo franco. Sou a favor das classificações etárias visíveis, sou a favor dos pais dizerem “não meu filho/filha não tem idade para isso” e sou a favor de toda arte que nos faça refletir sobre a realidade que em algum ponto nos ajude a ser melhores, e me entristece que ainda haja pessoas que use a arte de forma agressiva isso para mim é subestimar o poder da arte.
    Sua postura com sua filha foi – a meu ver – magnifica. O diálogo entre pais e filhos permite um desenvolvimento emocional e intelectual saudável. Ouvir que algo é inadequado sem o peso das doutrinas fundamentalistas funciona muito melhor que um não repressor e pudico.

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