Encontrei Jair Bolsonaro sem querer numa padaria perto da Paulista, há uns meses. Ele chamava pouca atenção enquanto tomava café no balcão numa tarde chuvosa. Sentado próximo, pude ouvir a sua conversa com dois funcionários. Praguejava contra os políticos, todos iguais, e dizia que sem pulso, o Brasil não tomaria jeito.
Pensei em intervir na conversa mas tenho alergia a intervenções e encarei meu pão na chapa calado e pensativo.
Depois o vi na fila do Aeroporto, onde falava com dois amigos e dizia algo como:
“Eu não sou preconceituoso mas…”
Todos sabem o que vem depois do “mas” quando a frase começa assim. Um terrível discurso sobre os negros não darem certo em lugar nenhum. “Veja os japoneses, chegaram pobres no Brasil…”
A coincidência maior foi ter encontrado Bolsonaro uma terceira vez. Agora dirigindo um Uber. Pedia a volta dos militares ao poder enquanto gentilmente me oferecia balas 7 Belo. Pode ser estranho, mas neste dia Bolsonaro era uma mulher ligeiramente obesa e muito simpática. Falou dos filhos como havia falado de política e dei a ela 4 estrelas no final da corrida.
Nos dias seguintes comecei a encontrar o Bolsonaro em muitos lugares: No mercado, na banca de jornais, no trabalho, na oficina mecânica. Ele assumia várias formas e jeitos, era alto, baixo, magro, moreno, loiro, bigodudo, peituda e até grávida.
Hoje mesmo, enquanto voltava para casa, o vi várias vezes no metrô. Falava do ódio aos vagabundos, de chineses, de artistas de esquerda, de presidiários que levam uma vida de marajá nas prisões. Pedia armas para pessoas de bem, maldizia o PT e lembrava saudoso dos tempos do Figueiredo.
Uma hora me vi cercado por eles, milhares de Bolsonaros que riam, faziam do V da Vitória e e apontavam para mim. A porta do vagão abriu e eu corri, desviando de Bolsonaros nas ruas, nos carros, nos andaimes, nos faróis.
Cheguei em casa com o coração disparado, o suor escorrendo em esguichos. Respirei fundo e pensei em me lavar, mas parei assustado, sem coragem de olhar o espelho, com medo da imagem que veria refletida.
Republicou isso em Gustavo Hortae comentado:
Espetacular.
Obrigado Gustavo!
Gostei da narrativa, do estilo! Muito bom! Vou acompanhar!
Obrigado! Procura sempre falar da realidade de uma forma inusitada. Convidar à reflexão. Abs
Que texto foda!
Valeu Douglas, apareça sempre. Gostei das suas resenhas de livros! Vamos manter conversas bilaterais!
Mto obrigado, Lúcio! Seu blog é mto bacana, curti bastante. Vamos nos falando. um abraço!
Eu tb gostei. Tb tenho medo de olhar, e olha q estou longe.
To morrendo de medo é de ver ele na presidência no ano que vem. O Brasil iria para o buraco…
É disso q falei, do meu medo de olhar.
O grupo q o segue e q me persegue com ofensas pessoais, sim dou a cara, eles não, pertencem a grupo bbb (boi, bíblia, bala) poderoso, completamento loucos.
Não gosto de ladrão, mas se tiver q ser, só se tiver mesmo q ser, prefiro um ladrão a um louco. O ladrão já sabemos a sua ação. O louco pode atirar p qq lado, qdo menos se esperar, e ainda roubar, e pior já está roubando a consciência e criando já o seu exército de acéfalos.
Por escrever assim, por favor, não me enquadre em grupo como eles fazem.
Por favor. 🙂
Gostaria muito de conhecer a sua opinião sobre a decisão de Trump de reconhecer Jerusalém como capital de Israel. Lembrei dessa pergunta, pq na mais famosa rede social, vejo q tds q apoiam esta decisão, tb morrem de amores por Trump e por Bolsonada.
Qdo digo q vejo q tds, não quer dizer realmente a totalidade, não tenho números. Talvez seja melhor eu corrigir para frequentemente.
Não se enganem, idiotas. A crise desse país é populacional, uma selva dessa não tem jeito nem com seres sobrenaturais.
Oi Julius, obrigado pela visita. Não entendi muito seu comentário, mas a casa é sempre aberta. Apareça sempre. Só tenho uma curiosidade. Quem você chamou de idiota?
Lúcio, bom dia. Quando falo sobre idiotas me refiro a muitos brasileiros que estão iludidos achando que Bolsonaro será uma espécie de Harry Potter da política e resolver todas as mazelas daqui. Esse país não tem condições de mudança pelo menos pelos próximos 50 anos. Obs: sou liberal clássico.
Oi Julius, concordo com você que o Bolsonaro não tem condições de governar o país. Quanto a sua desesperança, eu tenho 47 anos e acompanho a política há uns 30. Nesse período eu vi inúmeras mudanças para melhor e poucas para pior. Não sei por que as pessoas são tão pessimistas. O Brasil é um país fantástico. Em breve devo escrever sobre isso com mais detalhes. Abraço.
Eu tenho 28, desempregado e já joguei a toalha. Em breve estarei imigrando pra outro país, não aposto nem mais um centavo nesse lugar. Até mais.
Tomara que você tenha sucesso onde for. Pode continuar lendo o Toda Unanimidade no mundo todo. Temos amigos em vários países.
Com certeza. Um abraço a ti e desculpa se fui rude em algum momento.