Escola de Samba sem Partido

Desde de que o samba é samba é assim: A chacota, a picardia e a crítica fazem parte do carnaval. Pesquise e verás que havia marchinhas satirizando Getúlio e outros antes dele.

As Escolas de Samba sempre foram cronistas de seu tempo, falando de costumes e política. Quem não se lembra de Joãozinho 30 e seus mendigos escandalizando a Marques de Sapucaí? Coisa mais linda ver um desfile e ainda mais quando esse desfile cativa a plateia como fizeram Beija-Flor e Tuiuti.

Mas nas redes sociais e nas arenas da polarização política, as pessoas não pareciam tão empolgadas como eu.

A Beija-Flor fez uma linda crítica social, mostrou a desigualdade, a corrução, a desesperança do povo. Voltou a colocar mendigos na avenida. Usou uma metáfora de Frankstein absolutamente genial. Tinha tudo para conquistar os corações da galera da esquerda. Mas não conseguiu.

A turma do “Foi Golpe” estava encantada com a Tuiuti que satirizara Temer e os manifestantes da Fiesp. A escola também fez uma crítica inteligente mostrando que a abolição da escravatura era um desafio ainda por vencer.

O curioso, é que a galera da esquerda ao apoiar a Tuituti, tomou a Beija-flor como rival. Dava a impressão de que zoar o Temer e os coxinhas era mais legal do que a crítica social da escola de Nilópolis.

E a direita?

Aparentemente emburrou. Não gostou de uma crítica nem outra. Acho que vai fazer a campanha “Escola de Samba Sem Partido”.

A Jovem Pan, revoltada com críticas sociais, fez imensos editoriais falando como as Escolas são ligadas a bicheiros, como a Tuiuiti sofreu um acidente com o carro alegórico em 2017 e portanto era uma agremiação indigna. Carlos Andreazza dizia até que as fantasias estavam feias. Ninguém se comoveu com a força do samba, com a emoção do público e com o recado bem dado pelas escolas.

Ainda bem que o Brasil é maior que os torcedores fanáticos da Jovem Pan ou das redes. As duas escolas ganharam o carnaval de 2018 e levaram o povo a cantar seus sambas cativantes.

Vejo as Escolas de Samba como uma metáfora do Brasil.

Elas tem tudo para dar errado. Nasceram em comunidades carentes, são organizadas no chão de barracões sob a influência de bicheiros.

Ainda assim fazem um verdadeiro milagre. Levam 4.000 pessoas fantasiadas, muitas delas turistas que mal sabem sambar para a avenida e desfilam em harmonia. Apresentam carros imensos iluminados, coreografias, luzes e magia.  Desfile da Sapucaí é a vitória do improvável, união de milhares, trabalho e suor que vira o jogo. Tal qual nosso país que faz tantas coisas maravilhosas de forma inesperada, onde menos imaginamos.

No lugar de criticar a satirização dos enredos, no lugar de torcer como num Fla-Flu, sugiro que no ano que vem todos se dispam um pouco de suas ideias pre-estabelecidas e caiam na folia. Antes que até o carnaval fique chato.

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