Para os cinéfilos é fácil descrever o Hotel Argentino. Pensem no filme “Hotel Budapeste” e imaginem como seria o “Budapeste” hoje, absolutamente decadente, muito diferente dos dias de glória.
Pois bem, o Hotel Argentino, que fica na praia de Piriápolis é exatamente assim. Construído em 1930, era o orgulho do povo uruguaio. Um prédio majestoso com estátuas gregas, cassino, spa e todo o luxo que atraiu a alta sociedade rio-platense dos anos dourados.
Porém, quando visitei o hotel no mês passado, não vi glamour. A construção continua majestosa, mas a cidade de Piriápolis a sua volta cresceu sem graça, nada tem de balneário turístico, pelo menos que mereça uma visita. Tudo no Hotel Argentino revela sua decadência: Azulejos gastos, tapetes mofados, janelas descascadas e os hóspedes, bem, há muito o que dizer sobre eles.
Todos os hóspedes haviam nascido antes morte de Evita Perón. Exibiam suas bengalas nos salões mofados, nas roletas e aulas de hidroginástica. Entre as maçanetas douradas corrimões de madeira, eu observava seus movimentos lentos e confusos, como se a decadência do hotel acompanhasse o ocaso de seus corpos.
De repente, ao abrir a porta do elevador, vejo sair uma senhora muito idosa empurrada em sua cadeira de rodas por uma cuidadora. A mulher não falava, tinha a expressão distante de quem tem algum tipo de demência. A cuidadora conduziu a cadeira até uma janela e a velhinha ficou ali, com seu olhar perdido em direção ao mar.
Há quantos anos ela frequenta o Hotel Argentino? Que histórias teria vivido para continuar circulando por seus salões mesmo quando lhe escapa a sanidade?
Provavelmente, olhando para o mar, vinham-lhe memórias de tempos magníficos. Um dia ela foi uma jovem e elegante senhora que desfilou altiva por aqueles corredores. Minha imaginação faz pensar que foi lá que conheceu seu marido, talvez num baile de ano novo. Fecho os olhos e a vejo num lindo vestido, rodando pelo salão ao som de La Barca.
O tempo não foi gentil com o majestoso prédio assim como não será com cada um de nós. Lentamente o lugar que atraía presidentes foi sendo esquecido como muitos seremos no futuro. Suas paredes permanecem em pé, mas as histórias desaparecem, perdidas como o olhar de uma velha senhora diante da janela que revela tempos distantes.
