O primeiro negro Cadu é um menino que nasceu na minha cabeça e ganhou vida através dos traços de Pedro Menezes e da aposta da Lizandra Almeida, da editora Pólen. É o personagem do meu livro infantil “Cadu e o Mundo Que Não Era”.
O Segundo negro Cadu é um adolescente que nasceu na cabeça de Mauro Paz, jovem e brilhante escritor cujo livro “Entre Lembrar e Esquecer” inspirou este texto.
É uma boa coincidência dois escritores brancos escolherem o nome Cadu para os seus personagens negros e maior coincidência é a dupla se aproximar depois dos livros serem lançados.
Meu Cadu é um menino sonhador, provavelmente de classe média, cuja cor da pele não interfere na criatividade incontrolável. Ele aprende que a imaginação exagerada pode ser um problema como pode ser um dom.
O Cadu do Mauro Paz já começa o livro morto. Um adolescente de classe média fera no Skate que é assassinado numa festa da elite de Porto Alegre. O Cadu do Mauro é inspirado por um menino real, um negro encontrado morto numa festa chique, e cujo crime ninguém quis investigar.
Meu Cadu é o sonho. Um negro que poderia ser branco, poderia ser japonês, poderia ser o que quisesse porque no meu livro a cor de Cadu não importa. Fosse como fosse, sua história seria a mesma.
O Cadu do Mauro era um negro entre brancos e talvez essa tenha sido a causa da sua morte.
No mundo real, o meu Cadu poderia virar o Cadu do Mauro ao chegar na adolescência e descobriria que nem toda a imaginação o afastaria de olhares estranhos, de gente assustada na rua quando ele passa à noite, de batidas policiais, de piadinhas sussurradas na faculdade.
Conheço Mauro o suficiente para saber que ele vai continuar escrevendo sobre este duro mundo real, onde Cadu vive no fio da navalha, e me conheço o bastante para saber que continuarei sonhando com mundos onde a cor do Cadu não seja relevante para a história.
p.s. Quando escrevi Cadu ele não tinha cor nem cara, era só um amontoado de letras num documento de Word. Cadu tornou-se negro por sugestão do Pedrão, o ilustrador e coautor.
grande Lúcio, grande Pedrão! meus queridos, que riqueza ouvir de vcs essa história por mim tão vívida! está em mim o Cadu menino sonhador… e trago na memória a luta de pequenos meninos Cadu, esses que foram feito vítimas, sou capaz de lembrar nomes e de como empinavam a bike e como jogavam bola, tão reais que permanecem em nossas periferias! um abraço grande, que chegue também ao Mauro Paz! sugestivo esse nome, hein! Guto Pellegrini
Uma honra a sua visita!