O Desejo

O que será que será
Que dá dentro da gente que não devia

Nos anos 70 Chico Buarque, o compositor mais amado do Brasil, escreveu estes versos, provavelmente estranhos para os mais jovens. Pensei neles enquanto lia as matérias sobre João de Deus. O médium que atendia milhares de pessoas em Goiás está preso depois de ser acusado de crimes  assédio por centenas de mulheres. Foram crimes bárbaros, repetidos por muitos anos.

Não foi o primeiro e nem será o último homem a jogar fora seu nome por não controlar os impulsos sexuais.

Juízes, políticos, esportistas e líderes religiosos já cometeram as maiores barbaridades e imoralidades destruindo as próprias vidas.

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá

Tudo culpa de um tal desejo, um impulso primitivo que nos provoca e nada tem a ver com nossa racionalidade.

Na cabeça de cada homem e mulher de respeito orando nos bancos da igreja, o instinto primitivo está escondido, aparecendo sorrateiramente, provocando, procurando respirar. E não falo apenas de instintos sexuais. A raiva, o medo e a gula fazem parte de nossa irracionalidade.

Talvez os caros leitores já tenham sofrido com isso, alguém que lhes despertou os instintos. Quem sabe um colega de trabalho, um professor, um amigo. Quem sabe alguém proibido como o namorado da amiga ou o pastor da congregação

O fato é que somos seres sociais e evoluídos e aprendemos a controlar nossos desejos. Aprendemos a colocá-los em segundo plano, escondidinhos, e seguimos em frente, atuando lindamente em nossos papéis sociais.

Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia

Assim, vez ou outra, quando o animal instintivo domina o racional, quando o cidadão acima de qualquer suspeita se mostra o tarado, o pervertido, o monstro, a sociedade com justiça, se defende acusando o agressor.

Enquanto isso, eu no meu canto, me lembro que há nervosos animais irracionais dentro cada um de nós, loucos para arrancarem as amarras racionais e sociais que os contêm. O que não tem decência nem nunca terá. O que não tem censura nem nunca terá.

O que não faz sentido.

 

 

 

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