Escrevo esse texto em primeiro de abril, que antigamente era chamado de dia da mentira.
Nesse dia costumávamos enganar nossos amigos com pequenos trotes, dizíamos ao mais tímido da escola que a gata da classe havia se apaixonado por ele ou fingíamos acreditar no mundial do Palmeiras. Qualquer coisa que rendesse risadas ingênuas.
Mas isso foi no passado, no tempo que havia mentiras. Hoje o próprio conceito de mentira morreu e com ele, a celebração do primeiro de abril.
Tudo começou quando a mentira (ou paia como chamávamos nos anos 70) mudou de nome e ganhou a alcunha de Fake News. Isso deu uma aura americana e sofisticada à velha paia. Agora, o sujeito que é pego com batom na cueca passou a culpar a lavanderia e a namorada não pode mais chamá-lo de mentiroso, afinal, isso é apenas fake News.
O próprio termo Fake News já está ficando ultrapassado. Afinal, inventam também mentiras sobre o passado. Dizem que o nazismo era de esquerda e que o Golpe de 64 foi democrático. Podemos dizer que são fake olds.
Porém, nada disso tem sentido. Em 2019 não há mais verdade ou mentira. Cada um acredita no que quer.
Uns dizem que o Cristiano Ronaldo joga mais que Pelé, outros acreditam que a Terra é plana; uns dizem que vacinas são uma arma comunista para destruir o cristianismo e Olavo de Carvalho diz que cigarros fazem bem. Cada um de nós está livre para acreditar no que quiser: Nas explicações complexas do Tite, na pureza do Lula, na inteligência do Bolsonaro e nas boas intenções do MBL.
A reforma trabalhista vai criar 6 milhões de empregos, Lulinha é dono da JBS, a Globo é comunista, o Alexandre Frota é um exemplo de moralidade, Doria ficará 4 anos na prefeitura, Haddad distribui mamadeiras de piroca, Trump não é fantoche do Putin, a Scarlett Johansson é feia… Verdade ou mentira? Tanto faz, quem se importa?
Como dizia meu velho pai, “verdade é tudo aquilo que se faz crer”.😉
Saudades dos tempos da verdade. Será que já existiram?