As pessoas que me conhecem, assim como o leitor mais fiel do blog, devem estar achando que enlouqueci. Afinal, não é grande segredo que tenho sérias divergências de ponto de vista com os membros da família Bolsonaro. Assim, optei por contar em detalhes as condições em que esta foto aconteceu, por favor leia até o fim antes de me julgar.
Para você entender a história, é preciso que saiba de informações prévias:
1 – Além de escrever no Toda Unanimidade sou um profissional do setor audiovisual.
2 – O audiovisual está ameaçado pelo congelamento das fontes de financiamento (detalhes aqui), colocando em riscos milhares de empresas e empregos.
3 – Semana passada aconteceu o Rio2C, o maior encontro de negócios do setor.
Pronto, agora já posso contar a história.
Passei a semana na correria da Rio2C. Agenda cheia, ia de um lado para o outro em reuniões e mais reuniões. Em todas elas, um tema se repetia: Conseguiremos realizar novos projetos se o sistema de financiamento não se reestabelecer? Qual será a consequência da paralização. Quantos milhares de empregos serão perdidos? Quantos bilhões em negócios deixarão de acontecer?
Nesse clima de apreensão caminhava com minha colega Cris quando fomos informados que um dos filhos do Bolsonaro havia sido convidado para visitar o evento. A associação das produtoras queria sensibilizá-lo mostrando o tamanho e a importância do setor audiovisual para a economia. A presença de um membro da família mais assustadora do Brasil nos surpreendeu, mas logo achei que era uma boa ideia. Era preciso salvar o audiovisual.
E foi justamente quando paramos para tomar uma água de coco, brinde tradicional do SBT, que ele apareceu. Caminhava cercado de assessores e seguranças e passou ao nosso lado nos ignorando. Assim como eu, ele foi buscar um coco.
Por alguns minutos ficamos próximos, cada um com seu coco. Ele e seus seguranças com ar de poucos amigos. Eu e Cris assustados pela empáfia e a arrogância que nunca vira em outros políticos.
Quando ele matou a sede, se levantou e passou novamente ao meu lado, mas desta vez resolvi enfrentar aquele olhar ameaçador. Assim que a distância permitiu, estendi a mão e o sorriso.
_ Bom dia deputado.
Ele, meio sem graça repetiu o gesto, mas não dei tempo para que pensasse e perguntei:
– Deputado, sabe o que todos as pessoas aqui no evento querem? – Falei com firmeza, mas sem desarmar o sorriso, deixando uma pausa dramática, que colocou todo o staff em alerta – Nós queremos fazer negócios, vender projetos. Nós queremos gerar empregos. O senhor está aqui para nos ajudar, deputado? O senhor vai nos ajudar a gerar empregos?
A essa altura ele estava mais calmo e respondeu como um bom político.
_ Pode contar comigo! Estou aqui para ajudar. Temos a melhor pessoa para isso: O Marcos Pontes!
Levei alguns segundos tentando entender a relação do Ministro da Ciência e Tecnologia com o contexto, mas fui rápido o suficiente para sugerir a foto e distraído o suficiente para não largar do coco.
Percebi que os seguranças estavam mais relaxados, os assessores também sorriam e o parlamentar saiu orgulhoso, bem menos arrogante do que estava antes de passar por mim.
Logo depois a Cris me corrigiu dizendo que o Flavio Bolsonaro era senador e não deputado.
_ Era o Flavio?!?! – Me espantei – pensei que fosse o Eduardo!
Gafes acontecem. Se até um senador pode confundir as funções dos ministros, quem sou eu para acertar tudo?
E assim foi feita essa foto.
Se o problema da Ancine for resolvido, levarei comigo um orgulho secreto por ter contribuído com a solução, sendo isso verdade ou não. Muitas vezes temos de ser duros, outras vezes, um bom sorriso e a mão estendida podem ser o caminho mais eficiente para convencer o outro. Nós Brasileiros estamos cada vez mais craques em construir muros. Seremos mais felizes quando aprendermos a fazer pontes.
(O encontro com o senador me inspira reflexões mais profundas que virão no próximo texto)
Belíssimo texto – e contexto, Lucião! Parabéns!
Corri riscos…
Já não votarei em vc. Rsrsrsrs
Faz bem. Eu jamais votaria em mim.
Haha vc nos tirou toda esperança chamando Flavio de deputado. Ele é Nero.
Ele deve ter me achado muito burro. Quase falei Eduardo.
Grande Lucio! O audio Visual precisa continuar, se essa paralização perdurar por alguns meses a coisa vai ficar feia e teremos alguns milhares de desempregados no segmento. To torcendo pra que essa crise acabe logo. Abs
Vai voltar. Lutemos.