A decadência da esquerda

Fazer matérias sobre o ostracismo da esquerda está virando clichê. Até Luís Carlos Prestes concordaria que a esquerda não vive um bom momento, sem pautas definidas, união e força de atuação. Enquanto parte dos progressistas insistem no culto semimessiânico a Lula, outra parte debate a ética de se usar fantasia de índio no carnaval.

O PT aceita qualquer aliança (sempre aceitou) desde que seja o protagonista. Ciro tem um projeto absolutamente individual, o PSOL perde tempo homenageando ditadores do passado e o PCdoB, depois de 20 anos, descobriu que não é mais comunista. Cada um no seu canto, todos sem a força do partido bolsonarista que ainda nem foi criado.

A direita por outro lado comemora vitória aos tiros para o alto. A bolsa subiu, os juros caíram, a Amazônia pega fogo e os índios voltarão a ser catequizados. Melhor do que isso, nas palavras do Ministro Guedes, pobre não vai mais viajar para o exterior – “Que viajem para Cachoeiro do Itapemirim”! 

Só eu, com minha visão pouco convencional, considero a decadência da direita ainda maior que a da esquerda.

A direita que já teve como ídolos nomes como Churchill, Margaret Thatcher ou Roberto Campos, tem hoje como grande líder intelectual um paraquedista preguiçoso, desonesto e cheio de rancor.

O grupo de pessoas que chegou ao governo com a nova direita inclui: Um ex-ator pornô com várias condenações na justiça, um astrólogo aposentado que ganha a vida vendendo falsos cursos de filosofia, políticos ligados a milícias do Rio, um Ministro da educação inimigo dos professores. Enfim, um punhado de gente preconceituosa, homofóbica e cheia de ódio. Aliás, eu diria que o ódio é o sentimento dominante da nova direita.

Livros de Machado de Assis são cesurados, o AI-5 reaparece como sugestão na boca do filho do presidente e do Ministro da Economia, a ciência é contestada, o Ministro do Meio Ambiente defende a destruição da Amazônia e na Secretaria de Cultura, um vídeo oficial recria a comunicação nazista de Goebbels.

O presidente do Brasil ofende o pai de uma chanceler da ONU, o presidente do Brasil ofende a Primeira Dama da França, o Presidente do Brasil publica pornografia nas redes sociais, o Presidente do Brasil ataca a imprensa, o Presidente do Brasil proíbe propaganda do Banco do Brasil por ter modelos negros e Gays. 

Lendo assim, nem parece verdade, mas tudo isso aconteceu e foi apenas 1% das maluquices e maldades que a direita vem exercendo desde 2019.

A única coisa que a nova direita tem hoje é o poder. Fora isso não tem valores, não tem quadros com grande capacidade administrativa, não tem pensadores sérios e não tem um projeto consistente.

Enfim, embora seja hegemônico, não há nada a se admirar nesse grupo. Se esta é proposta da direita, então prefiro a velha política, ou até mesmo a esquerda fragmentada e sua utopia juvenil.

Creio que podem ainda surgir novas lideranças e alianças mais interessantes, tanto de esquerda como de centro, ou até mesmo grupos de direita não atrelados ao ataque à cultura e à negação da ciência. Hoje o futuro parece assustador, sem alternativas empolgantes. Mas é justamente esse vácuo que pode abrir espaço para novos projetos, espero que melhores.

4 comentários

  1. Gostei. Parece ser isso mesmo.
    Faltou o PSB e PSTU serem analisados. De qq forma não mudaria o fato de que não vive um bom momento.
    A direita parece q nem existe. Anda na sombra desse governo. Uma posição vergonhosa.
    Parecem todos anestesiados, esquerda e direita.
    Talvez, cenário ideal para personagens da tv como mais um salvador da pátria.

  2. Excelente texto. Só acrescentaria que, tanto à direita como à esquerda, vivemos um esgotamento político, sem o surgimento de nomes novos e melhor preparados para empreender as reformas (sociais, estruturais, etc) que o País precisa.

    Nosso sistema político é ruim de per si e nos condena a um eterno ciclo de passos em falso, discussões rasas e mediocridade perene. No fundo, nem esquerda e nem direita merecem o epíteto de “progressistas”. Somos uns sebastianistas incorrigíveis, que de tempos em tempos tropeçamos em salvadores da pátria. Todos eles regressistas.

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