A história de um bigode

Faz uns dez anos que decidi deixar minha barba crescer. Pouco antes de virar modinha. Logo depois os hipsters passaram a me imitar e com o tempo, jogadores de futebol e cantores sertanejos fizeram o mesmo. Devo confessar que não esperava esse sucesso todo, eu só queria disfarçar a papada.

Minha barba era bastante conservadora, quase reacionária. Eu procurava ajeitar diariamente com a maquininha, manter a altura certa, deixar um desenho tradicional. Se minha barba fosse um eleitor, ela votaria no Alckmin ou no Amoedo.

Vivi 10 anos feliz com minha barba quase reacionária quando fui surpreendido por uma das maiores pandemias da história da humanidade. Vocês devem estar sabendo. Fui obrigado a abrir mão do trabalho e do contato social e passei a viver trancado em casa.

Pois para me distrair resolvi deixar a barba crescer livremente. Eu não teria reuniões, não precisaria passar a imagem de bom moço em qualquer círculo social, pois então qual a necessidade de manter a barba cortada como se fosse o jardim do palácio da rainha?

Assim, minha barba passou a crescer livre e selvagem, abandonando o conservadorismo, ela avançava a seu modo, uns pelos eram brancos, outros castanhos, uns era lisos, outros enrolados, cada um indo para uma direção diferente…

Me transformei numa mistura de líder sindicalista dos anos 70 com rabino chassídico. Assustaria as crianças mas provocaria aplausos nos hippies de São Francisco e nos joalheiros da rua 47.

Porém, meus amigos começaram a alertar sobre os perigos da barba na pandemia. Quanto maior a barba, pior o funcionamento da máscara. Teoricamente ela seria um ótimo ambiente para desenvolvimento de vírus e bactérias.

Então resolvi mudar o visual e fiz vários testes. Tentei os modelos Dom Pedro I, Lemmy do Motorhead, Sam Elliot, Nigell Mansel, Hercule Poirot…

No fim, adotei um bigode tão conservador como minha antiga barba e estou feliz com ele. Lembra um pouco o do meu pai nos anos 70, tem uma pegada vintage. Por enquanto fico assim, até os rumos da saúde mundial ou da moda me inspirarem para novas mudanças.

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