(Esse texto é o desenvolvimento de uma ideia do Edson “Coke” e do Márcio Andraus. Espero que eles gostem…)
Geraldo olhava para a prateleira, indeciso sobre qual marca de azeitonas levar quando a estranha mascarada passou na outra ponta do corredor. Ele mal a viu, só reparou na camiseta do Metallica.
Depois, quando cruzava a sessão de iogurtes, pôde vê-la melhor. Era de média estatura, tinha o corpo bonito, cabelos curtos como se usava nos anos 80, vestia calça jeans e a camiseta já mencionada. Mesmo sem ver seu rosto, Geraldo concluiu que era bonita.
Mais tarde, em casa, quando limpava as embalagens antes de guardar as compras, Carla reclamou – Já falei para não comprar essa marca de amaciante – Geraldo lembrou da estranha mascarada e suspirou.
Geraldo era funcionário público, tinha tudo para viver uma quarentena confortável. Tanto o emprego como o salário estavam garantidos. Morava em uma casa espaçosa, podia até tomar cervejas no quintal, ouvindo Black Sabbath. Porém Carla, não estava tornando as coisas fáceis.
“Você já tirou o lixo?”
Abaixa esse som.”
“Não é assim que se dobra o lençol de elástico.”
Geraldo suspirava.
Na semana seguinte, ele decidiu fazer compras no exato horário em que havia feito na anterior, terça às 18h. Para a sua surpresa, lá estava ela, a estranha mascarada. Encontrou-a justamente selecionando cervejas artesanais, demonstrando um bom gosto incrível. A mulher tinha um conjunto de atributos difícil de esquecer, cabelo curto estilo anos 80, fã de Metallica e cervejas artesanais. Precisava conhecê-la, mas antes disso precisava comprar Sapólio, se esquecesse de novo, Carla iria matá-lo.
O passar das semanas revelou que a estranha mascarada era pontual no seu horário de compras, o que transformou Geraldo num “stalker” regular e assíduo. Toda terça ele estava no mercado, sempre a observando de longe. Curtia as camisetas dela, as cervejas que ela levava, o jeito independente e leve que imaginava que ela tinha.
Na cabeça de Geraldo, a mascarada era o oposto de Carla. Se estivesse vivendo a quarentena com ela, com certeza passaria as tardes ouvindo heavy Metal e tomando cerveja no quintal. Provavelmente fariam churrascos, drinks, ririam alto e tudo o mais.
Carla por sua vez estava obcecada com a limpeza da casa, impaciente com a nova rotina e achava Geraldo imaturo por ficar ouvindo as mil vezes as músicas de sua adolescência. A convivência 24 por 7 não estava fazendo bem ao casal.
Numa tarde de agosto, Geraldo decidiu se aproximar da estranha mascarada. A quarentena já estava menos rigorosa e muitas pessoas abriram mão das máscaras.
A estranha mascarada, ao vê-lo, aproximou-se:
_ Você não é o Geraldo? – Perguntou puxando a máscara para o queixo – Não está me reconhecendo?
Vendo-a de perto, de cara desnuda, ele reconheceu de imediato. Era Valéria, casada com o primo Jandir. Não os via há anos, mas na rede social eles eram daqueles chatos Bolsonaristas, sempre pedindo a cabeça do Moro ou o fechamento do Congresso.
Conversaram por 5 minutos e se separaram.
Ao chegar em casa, Geraldo bradou:
_ Amor, comprei uns queijos e aquele Malbec que você adora! Que tal uma noite romântica?
Hahaha…
Pobre Geraldo! Mergulhado nas suas aflições, tinha esquecido do requisito número um, antes, durante e depois da quarentena & pandemia…
A fantasia sempre é melhor que a realidade…
Or “Stranger than Fiction”