“O novo normal” é daquelas expressões que ouvimos milhões de vezes em um período curto da vida, para depois desaparecerem no “limbo das expressões perdidas” onde vivem termos como “Não Vai Ter Copa”, “Pedaladas Fiscais”, “Gatilho salarial” ou “Fundo Monetário Internacional”.
De qualquer forma, no ano de 2020, todos só falam disso e tentam apostar em como será o mundo daqui pra frente.
Sou menos pretensioso, prefiro estudar o presente a imaginar o futuro. Para mim, o novo normal é o agora e continuará sendo assim até que outro normal venha substitui-lo.
Para mim o novo normal é ficar preso no apartamento, saindo pouco e com medo desse maldito vírus
O novo normal é ouvir notícias de pessoas que estão doentes ou que se foram, sem poder fazer visitas ou despedir-me decentemente.
O novo normal é ter dívida no banco, é acordar de madrugada pensado em como será o futuro.
O novo normal é publicar um monte de besteira nas redes sociais e estar sempre com os amigos no Whatsapp para tentar disfarçar a sensação de solidão.
O novo normal é uma pilha de louças que nunca acaba, é planejar lavagens de roupas, é achar que tem pó em tudo. O novo normal é pensar em como a faxineira dava conta do meu apartamento em um único dia e como eu não valorizava seu trabalho.
O novo normal é perder a vontade de bater panelas, perder a vontade de assistir ao jornalismo. É não se interessar mais pelas manifestações que parecem todas iguais e sem sentido. É achar que a única notícia que importa é a descoberta da tal vacina. Até lá, melhor ficar alheio ao que acontece no mundo.
O novo normal é fechar os olhos para os números de mortes porque a gente se acostuma com eles. Quando 1000 mortes por dia é o novo normal, você descobre que a vida vale muito pouco e então percebe que fechar os olhos é a única forma de não enlouquecer.
O novo normal é enjoar das séries, não ter paciência com os livros, não ver graça mais nas redes sociais e perceber que qualquer momento do passado é melhor do que o presente, porque o passado pode ser compartilhado e, como escreveu Christopher McCandless, “a felicidade só é real quando compartilhada.”
O novo normal é o mesmo dia se repetindo mil vezes, com as mesmas notícias, as mesmas conversas e a mesma angústia martelando na nossa cabeça. É pensar que estamos presos numa caverna e que não sabemos que mundo vamos encontrar quando finalmente acharmos a saída. Pior que isso, é o medo de que algumas pessoas amadas não consigam sair da caverna.
O novo normal é se prender na fé e lutar com todas as forças para mantê-la pois a esperança é a última que morre, o que não significa que ela seja imortal.
Muito sensato, Lúcio. Realmente: o novo normal é o agora. E não há muito o que fazer/pensar em relação ao futuro. Além do número de mortes mostrar que a vida vale pouco, estamos olhando de perto como tudo é frágil, nada permanente. Abraços!
Obrigado por visitar o blog, espero no futuro ter textos mais otimistas…
O novo normal é igualzinho ao velho normal, só que sem sair de casa.
E sem abraços… snif, snif
Boa. Muito bom.
Valeu!!!
Não sou apenas eu a alienada das notícias… No começo, abria todo santo dia o site oficial sobre a Covid no Brasil, para ver a evolução da pandemia… os números de infectados e mortos… Além de vários artigos, reportagens e comentários… Hoje, não mais! O novo normal é continuar vivendo todo dia com medo de ser apenas mais um número… ou de que seus entes queridos o sejam…
Pensamos de forma muito parecida…
Parece até que não estou sendo mais empática… Sim, pintou uma apatia geral… Só vejo números… Não consigo mais associá-los a pessoas. Sinto-me mal por me sentir assim… Ou não sentir, sei lá! 😦
Gostei da definição de novo normal ser o agora, nunca havia parado para pensar dessa forma. E também compartilho desse medo de não conseguir sair ou de pessoas que amo não conseguirem. Parabéns pelo texto! Abraços!
Obrigado Darlene. Apareça sempre! Vamos resistir juntos!