Conversava com uma amiga sobre como 2020 foi um ano pesado, como é difícil manter o ânimo nestes momentos e ela me lembrou da metáfora do copo.
Quando vemos um copo pela metade ele pode estar meio cheio ou meio vazio, depende do prisma do observador.
Cheguei em casa com esse diálogo ecoando nas têmporas e resolvi fazer o teste materializando a cena. Fui à cozinha e enchi um copo até a metade, o objetivo era olhar para ele como uma forma de autoanálise.
Mas antes que o teste começasse, o copo escapou da minha mão, espatifando-se no chão em inúmeros cacos pontudos. Eu estava descalço e me assustei, tentei desviar do acidente e acabei pisando onde não devia, fazendo um belo corte no pé.
Tive de fazer um curativo e limpar o chão da cozinha que parecia um cenário de filme do Tarantino. Na verdade, havia sangue também na sala e no banheiro.
Quando tudo se resolveu, percebi que a metáfora era ainda mais poderosa. O destino, a natureza, os anjos ou fadas prepararam esse acidente para me mostrar que independentemente dos nossos pontos de vista, do olhar otimista ou pessimista, há uma realidade objetiva que nos atropela e que está pouco se lixando para os nossos sentimentos.
Podemos ser mentalmente preparados para enfrentar as intempéries, podemos ser treinados pelos coachings quânticos, podemos assistir todos os TedTalks. O vírus continuará matando, os preços continuarão subindo, a sociedade continuará dividida e cheia de ódio.
A força mental e o equilíbrio são belas habilidades para se desenvolver no trabalho, mas na vida pessoal, às vezes a forma mais realista de encarar os problemas é aceitar os sofrimento que eles nos provocam. O otimismo forçado não nos ajuda, só cria uma máscara para proteger nossa imagem, a tristeza continua exatamente onde está.
Quando o copo se quebra, não adianta pensar no cheio ou no vazio. É preciso primeiro juntar os cacos, limpar o chão, passar álcool na ferida. E pode estar preparado, vai arder.
“otimismo forçado”. Gostei muito disso. Não ajuda mesmo… Muito bom
Anos de análise tem de servir para alguma coisa!
“O otimismo forçado não nos ajuda, só cria uma máscara para proteger nossa imagem, a tristeza continua exatamente onde está.”
Verdade, mas isso tb continuará.E há quem pregue e viva sobre esse otimismo forçado. Não falo só de religiosos, mas muitos terapeutas.
Sempre é preciso superar a dor, mas antes de superar, temos de vivê-la.
Ótima análise, Lúcio. Me lembrou a ideia de “positividade tóxica” que vem sendo muito debatida ultimamente. Abraços e cuide do pé!
Eu não machuquei o pé, é uma ficção. Não conhecia positividade tóxica, vou me informar. Obrigado pela visita!