leia e ouça: saskia iris || rain
– Se o amor acaba? – ele perguntou em resposta a ela e continuou – Bem, provavelmente o amor não acaba. Creio que ele pode se transformar em outro sentimento, sei lá. Raiva, ódio, carinho, desprezo ou indiferença – disse. Após alguns segundos ele continuou – Porra, mas que puta filosofia barata e vagabunda para fazer perder o nosso tempo aqui na praia, não? Praia, aliás, totalmente cinza e que vai testemunhar uma tremenda chuva que vai explodir sobre nossas cabeças deliciosamente ocas – concluiu Nando, sentado de modo relaxado sobre um montinho de areia, com a cabeça baixa, tentando desenhar algo com os seus dedos desajeitados naquela tela tão natural e tão fofa.
Luísa estava sentada próxima a ele e apenas o observou com carinho através dos seus olhos vermelhos, tristes e úmidos. Nada disse em troca. Apenas admirou ainda mais uma vez os longos e descuidados cabelos claros de Nando. Fernando, o seu amigo de longa data. Amigo de tantas coisas. Muito boas e muito ruins. Leves e pesadas. Testemunha ocular de várias verdades, até as que ela mais queria esconder.
Ele levantou a cabeça e perguntou direto – O amor acabou?
Luísa tremeu ao ouvir aquela pergunta tão seca e resolveu apenas observar o céu. Desviou o seu olhar para aquele céu tão cinza de fim de tarde. Um céu tão escuro e tão cheio de nuvens pesadas que, em nada combinava com a praia, apenas com o que ela estava sentindo. O que ela estava realmente sentindo.
Areias escaldantes? Definitivamente não.
Nuvens chumbo? Definitivamente sim.
Chuva? Em instantes.
Nando pôs-se de pé e rapidamente sacudiu a areia grudada nas suas coxas e pernas. Sacudiu as mãos com leveza. Estendeu-as limpas em direção à Luísa que o encarou com o olhar sincero de carinho muito verdadeiro. Muito. E como se pedisse ajuda com o seu olhar doce, ela esticou os braços finos e pequenos e com seus dedos frágeis segurou as mãos fortes de Nando. Pôs-se de pé e o abraçou com bastante força. Muita. Ele retribuiu o abraço e ainda acariciou suavemente os cabelos da amiga. Ela começou a chorar copiosamente. Desespero. Genuíno desespero. Ele a abraçou com mais força e ternura ainda e beijou de leve o seu rosto.
– Nando? – ela perguntou baixinho, quase em sussurro, quase em oração.
– Diz – ele respondeu.
– Vai começar a chover, não?
Ele olhou para as nuvens e respondeu – Sim. O céu está muito cinza e o vento está ficando cada vez mais forte. E nem vou falar sobre as bravas ondas do mar diante de nós – disse.
Após uma longa pausa, necessária para respirar, Luísa emendou – Ele não vai voltar, não é? Nunca mais. Nunca mais ele vai voltar para mim?
Nando fechou os olhos com tristeza e apenas respirou fundo. Ficou em silêncio.
– Posso te pedir uma coisa? – Luísa continuou.
– Claro, meu amor. Certamente você pode pedir o que quiser. Sempre.
Luísa levantou a cabeça, olhou para o mar que gritava com raiva através das suas ondas e apenas pediu – Você me avisa quando parar de chover? Por favor? Você me avisa?
Photo by Martina from Free Images
Clap, Clap, clap
Valeu Lúcio. Ótimo estarmos dividindo esta Varsovia.
Republicou isso em REBLOGADOR.
Obrigado Eder. Valeu
Opa!…………parabéns pelo conto!…………. 🙂 …………valeu!
Que texto lindo. Você escreve muito bem, traz uma narrativa psicológica muito sutil. Muito bom.
Muito obrigado Odonir. Muito mesmo. Que bom que gostou…