Leite Condensado

Gabriela estava ansiosa, já havia tomado banho, feito a depilação íntima, passado perfume, colocado a melhor calcinha. Depois de duas semanas de conversa no Whatsapp, Tuba estava a caminho de sua casa.

Tuba havia sido a grande paixão platônica de Gabriela no colégio. Não apenas dela e não somente no colégio. Gabriela e Tuba se pegaram ao longo da vida inúmeras vezes, mas estavam há anos sem se ver. Os dois tinham casado e agora, finalmente, os dois estavam divorciados.

Gabriela checou novamente o lençol de algodão egípcio novo com que havia preparado seu leito de sacanagem. Esse é o termo correto, pois ninguém fazia amor com o Tuba, com o Tuba se faz sexo do bom, sem floreios, sem galanteios e perdas de tempo. As mensagens de Whatsapp não deixavam dúvidas, Tuba continuava o mesmo canalha gostoso. Foi quando ouviu a campainha.

Assim que atravessou a porta, Tuba se enroscou em Gabriela num beijo tão rápido que ela nem pode encará-lo. Quando o fez, teve dificuldades em disfarçar a decepção. Tuba não havia se transformado num grisalho sexy como Richard Gere, muito pelo contrário. O tempo não fora generoso com ele.

Profundas olheiras, linhas nos cantos da boca, calvície e um péssimo gosto para se vestir tiravam o brilho do antigo galã do colégio Duque de Caxias. Somando-se a isso ela não sentiu a mesma emoção na pegada que fez ela tremer por tantas vezes nos tempos de faculdade .

Isso não impediu que continuassem atracados, se beijando enquanto ele a direcionava para o quarto.

Se despiram apressadamente e enquanto ela deitava ansiosa, ele procurava algo no bolso da calça jeans.  Voltou para a cama nu, com o pinto rijo, segurando uma lata aberta de leite condensado.

Antes que Gabriela pudesse abrir a boca, Tuba despejou o creme no próprio peito flácido. A gosma desceu se misturando a seus pelos até chegar ao pau.

Ela percebeu que ele tinha muitos pelos, muito mais que antigamente e que seu corpo lembrava um pudim cuja receita desandou. Falando em pudim, o leite condensado continuou seguindo seu caminho, pingando do pau para a cama, para o lençol de algodão egípcio (600 fios) que ela comprara em 6 vezes na Trousseau.

A cena ficou congelada em sua retina. As gotas caindo em câmera lenta, aquele homem nu, patético, todo melecado e nojento destruindo seu lençol e falando num tom de pornochanchada:

_ Me chupa.

Gabriela não chupou. Botou ele para fora tão rápido que ele teve de vestir a roupa sem tirar uma gota do doce. Ela gritava aflita apontando a rua enquanto ele se vestia e corria ao mesmo tempo.

Ela respirou fundo ao bater a porta e apressou-se para jogar os lençóis na máquina. Por sorte, o jogo de cama não manchou e pôde ser usado em outras ocasiões, para encontros bem melhores.

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