Rocket Boy

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– Hoje é sexta, não é? – disse Luciana, toda feliz.

– Bem, tecnicamente é sábado. Já são quase três da manhã – ele respondeu direto.

– Ah, é um saco isso. Para mim, ainda é noite de sexta.

– Noite de sexta foi ontem. Hoje, de forma correta, já é sábado.

– Odeio estas convenções.

– Você pode odiar o quanto quiser Lu, mas hoje é sábado.

– Como você é irritante, não?

– Nisso você tem razão. Até eu concordo.

– Foda-se isso. Não está linda?

Ele a olhou com calma e perguntou – Linda? O quê?

– Esta noite, porra. A noite de hoje está linda. Não importa se é sábado, sexta, ou o que for. A noite está absolutamente linda. Olha este céu. Que céu! Tão escuro e tão cheio de estrelas. Maravilhoso.

– É. Você tem razão – ele concordou – Está uma noite bonita hoje. Mas eu confesso que não tenho muito saco para reparar nisto não. Prefiro ficar aqui, sentado nesta sacada, apenas curtindo ao meu redor.

– E eu não sei? Claro. Você só se preocupa com estas suas músicas, estas suas pílulas, estes cigarros caseiros que você mal sabe enrolar. Pena. Assim você sempre perde o melhor da noite.

– Discordo total. Para mim, o melhor da noite é estar aqui, nesta sacada, conversando com você.

Ela sorriu e disse – Ok. Vou acreditar. O maior problema é que você deixa de perceber as coisas boas da vida, querido. Este é o problema. Você não foca.

– Eu percebo as coisas da vida que merecem minha atenção. Pode estar certa disso, “querida“.

– Irônico.

– Como assim?

– Nada. Você adora ser irônico. Isso me enerva.

– Eu não sou sempre irônico. Claro que não. Eu percebo mesmo as coisas que realmente importam.

– Dê um exemplo. E sem pensar muito.

– Você, por exemplo. Eu percebo você.

– Hahahahahahaha – ela gargalhou – Tá certo.

– Claro que percebo. Este seu olhar de quem quer me devorar, de quem quer me possuir. Impossível não perceber o seu desejo.

– Hahahahahaha. Você está ficando louco. Todos estes excessos químicos e álcool vão acabar derretendo o seu cérebro, que já é meio mole, aliás.

– Tomara. Fritar neurônios. Boa ideia – ele disse, já acendendo mais um cigarro caseiro.

– Se você me percebesse mesmo, já tinha me dado um puta beijo, daqueles cinematográficos – ela disse em tom de brincadeira.

– Aí você não iria querer mais nada comigo – ele afirmou.

– Não? – ela perguntou.

– Não. Preciso te conquistar aos poucos, sabe? De um jeito todo especial, até que você caia de amor por mim, por toda a eternidade.

– Você é um palhaço. Somos amigos há quanto tempo mesmo?

– Eu sei que sou um palhaço. Mas ainda vou provar que estou certo quando você se cair de amores por mim.

– Amizade entre homem e mulher então, não existe?

– Bem, ao menos da minha parte, Lu, não.

– Hahahahahahaha – ela gargalhou mais uma vez – Está bem. Vamos esperar para ver.

– Eu queria ser astronauta quando pequeno. Um rocket man, saca? – ele disse.

– Astronauta? – ela perguntou divertida – Toda criança já quis ser astronauta. Só para dançar na lua?

– Deixe-me reformular o que eu disse, eu não queria, eu QUERO ser astronauta. Para tudo o que eu puder fazer lá em cima na lua, qualquer coisa, mas, principalmente, para poder olhar a Terra lá de longe. Lá do alto.

– Sem se envolver?

– Exato. Sem me envolver com os problemas daqui. Sem sofrer.

– Seria tão bom se pudéssemos fazer isso – ela concordou.

– Ver a Terra lá de cima?

– Não. Seria tão bom se pudéssemos apenas não nos envolver. Ainda mais por amores indesejados. Seria tão bom – ela completou triste, lembrando de alguém que ele bem sabia quem era.

– Seria bom se todos fôssemos astronautas – ele disse.

– Muito bom –ela concordou, já com pensamentos distantes – A noite está mesmo linda, né? Uau.

Ele a observou com carinho e cuidado e apenas disse – É. Muito linda mesmo! “E seria tão melhor se você percebesse o quanto eu te amo de verdade, sua tola” – ele pensou em silêncio, enquanto acendia novamente o cigarro mal enrolado que havia apagado, querendo mais do nunca voar longe e alto, muito alto e muito longe.

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