Marcou na frente da jaula do lobo-guará. Não porque gostasse do bicho, na verdade poucos foram os visitantes do zoológico que já o viram, animal com hábitos noturnos, raramente aparece de dia. Pouco sai de trás dos arbustos do grande espaço destinado a ele, que reproduz uma paisagem do cerrado.
Por isso marcou lá. Um canto meio isolado do zoológico, buscava discrição. Tímida, não se encontraria com ele na entrada. Muito menos perto da lanchonete. Em frente aos macacos, ponto de maior movimento do zôo, nem pensar. As outras iriam ver. Comentar. E ela cheia de dúvidas e inseguranças não saberia o que responder.
Ele era estranho. Quieto, ruivo. O único ruivo da escola. Ela já não sabia mais porque tinha aceito o convite. Sabia sim: na verdade fora o único em toda a sua curta adolescência. E se nenhum outro a convidasse?
Ela não queria repetir a história das mulheres da sua família. Tias solteironas que ainda tinham ilusão de casamento. Freqüentavam todas as festas da cidade sem sucesso. A própria mãe, viúva, nunca mais se interessara por homem nenhum.
Ela já estava lá, em frente ao cerrado artificial. Nem sinal dele. Nem sinal do lobo. Ele tinha falado três horas. Depois do futebol. Ela chegou ao zoológico às duas.
Veio com sua melhor roupa. Ainda andou pela alameda dos felinos. Parou um tempo na frente do elefante. Deu tempo de vê-lo cagar. Ficou horrorizada.
Passou ainda na lanchonete. Comprou uma bala de hortelã. Daquelas ardidas. Tinha esperança secreta de beijar de língua.
Eram três e quinze e nada dele. O céu começando a nublar, ela com medo da chuva, que arruinaria seus planos e seu cabelo. Olhava para o cerrado e olhava para os lados.
Tentava vê-lo, do caminho dos bichos meio bobos, porco do mato, ratão do banhado, tatu, cotia. Poucos vinham desse lado. Podia se chegar na ala do lobo pela jaula da onça, essa sim, uma das grandes estrelas do zoológico da cidade.
Até que ela o distingue de longe. Os braços longos. As pernas finas. Vindo em sua direção. Silencioso. Ruivo. Tímido. Até meio encurvado. Devagar, passo a passo. A cabeça baixa.
Quando chega mais perto ela consegue ver seus olhos. Amarelados. Encarando. Na boca grande, quase um sorriso. Ele para na frente dela.
E uiva. Um uivado agudo, triste. Ele vive sozinho, há oito anos sem parceira – difícil arrumar uma fêmea de lobo-guará em cativeiro.
O par dela, também não veio.
Mas ela não está mais sozinha. Agora tem o lobo.

Muito bom… Amei