Lockdown na festa da Liberdade

A páscoa judaica, ou Pessach, é a celebração da fuga dos judeus do Egito. Lembramos da história de Moisés e da jornada que tirou os judeus da escravidão, os transformando em uma nação com território próprio e mais importante que isso, um conjunto de livros que ditava o comportamento, as leis e os parâmetros éticos.

Assim, até hoje, ano após ano, lembramos que éramos escravos e agora somos homens livres.

ironicamente, esse ano assim como no ano passado, vamos celebrar Pessach tendo nossa liberdade limitada. Não podemos ir aos restaurantes que tanto gostamos, não podemos andar nas ruas sem máscaras, não podemos fazer festas, nem mesmo a de Pessach. Faremos um jantar minúsculo com o núcleo familiar.

Isso tem irritado muitas pessoas que preferem desrespeitar as regras de isolamento em nome da preservação da liberdade.

A vida em sociedade tem sempre proibições, regras criadas em diferentes tempos e lugares e que sem elas a vida em grupo não seria possível.

Pergunto a esses bastiões dos direitos individuais se eles andam nus pelo centro da cidade, se eles dirigem na contramão em uma rodovia, se eles fumam dentro de hospitais. Proibições são parte de qualquer país, cidade ou tribo.

Ao deixar o Egito e levar o povo judeu para o caminho da liberdade, Moisés também apresentou os 5 livros da Torá, o Pentateuco do Velho Testamento. Nele estavam as leis que os judeus deveriam seguir. Não havia apenas 10 mandamentos, eram 613. 365 dos quais eram proibições.

Não era proibido sair sem máscara ou se aglomerar na praia, mas era proibido:

  • Um homem vestir roupas de mulher e vice versa
  • Fazer tatuagens
  • Usar roupas que misturassem lã e linho
  • Homens não podiam cortar os cabelos nos cantos da cabeça
  • Cortar a barba
  • Entrar no santuário sagrado
  • Construir um altar de pedras tocadas pelo ferro
  • Comer insetos alados que formam enxame
  • Comer o membro de um animal vivo
  • Tomar utensílios de cozinha em penhor

Essa é uma pequena amostra das 365 proibições que se multiplicaram ao logo dos séculos e até hoje novas proibições são criadas, como a de não pegar elevadores aos sábados.

Um judeu ortodoxo segue milhares de proibições e mesmo assim comemora a sua liberdade com imensa alegria.

O que os judeus aprenderam com a Tora é que regras de sociedade e liberdade andam juntas. A festa da liberdade é logo seguida por Shavuot, a celebração da entrega da Torá. Não existe liberdade sem regras.

Talvez por isso Israel tenha tido leis tão duras de Lockdown. Talvez por isso, Israel tenha sido o primeiro país a se livrar do Covid.

Hoje, nosso faraó se chama Coronavírus e para derrotá-lo, não adianta jogar 10 pragas ou abrir o mar vermelho. A libertação está em cada um de nós, está em seguir regras simples de uso máscaras e distanciamento social, está em olhar para o outro como um concidadão a quem devemos proteger e respeitar.

Pessach Sameach (feliz Pessach) e Feliz Páscoa

6 comentários

  1. Argumento interessante… conheço pouco a respeito da crença judaica. Na minha juventude pesquisei religiões e estudei história. Sempre atrelei uma coisa a outra. A curiosidade me levou por esse caminho. O pouco que sei é dessa época.
    Deixando de lado o religioso e pensando apenas no social, tenho para mim, que a maioria das pessoas não fazem idéia do que seja liberdade. Por aqui, ouço com frequencia falar em direitos. Todos sabem os seus e gostam de alardear, geralmente com o dedo em riste. Geralmente é feito para manter privilégios ou evocá-los, nunca em prol da liberdade.
    Uma ótima semana e grazie pela reflexão matinal

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