Como Um Raio

leia e ouça: olympic black || so far

O café era bonito e aquele final de tarde ainda estava ensolarado. Final de inverno e lá estavam eles no velho café do Parque Central, juntos. Como sempre, juntos. Ela com seu chá de blueberry e ele com seu celular sempre apitando e as mil mensagens chegando. Uma atrás da outra. Ele tentava ser gentil, mas acabava sempre desviando o olhar para o aparelho. Ao menos colocavam toda a conversa em dia nesses encontros adoráveis. Mesmo com o celular inoportuno. O café era bonito e aquele final de tarde ainda estava ensolarado. Luzes lindas os cercavam, com o sol ameaçando já querer partir. Conversavam sobre alguma amenidade qualquer ou uma viagem que ele queria fazer quando, de repente, o telefone tocou. Ele pediu licença com um sorriso e atendeu. E, neste momento, enquanto o observava atender a algum desconhecido qualquer, ela sentiu um estalo, um tremor, um clique. Algo que sabia, mas queria evitar. Ficou muda. Subitamente muda. Estática, sem saber o que fazer. Sentiu ainda um discreto tremor de surpresa e tentou disfarçar, mas quase derramou o seu chá de blueberry pela mesa. Ela ficou perplexa. Fazia tanto tempo. Tempo demais. E lá estava ele. Depois de todos esses anos, depois de toda essa vida. Lá estava ele. Ela abaixou com cuidado os óculos escuros para tentar visualizar melhor, mas era ele. Era ele, sim. Claro. Óbvio. Ela sentiu um misto de surpresa com alegria, com tristeza, encantamento e felicidade. Ficou  com raiva por não ter aceitado antes, por ter fugido das certezas, dos sinais. Jurou vingança ao desprezo do seu coração e sentiu, em suma, todos os sentimentos que podem existir e todos ao mesmo tempo.

Ela sentiu isso. Algo que não se descreve. E ficou atônita.

Pensou, por um instante, o que deveria fazer. Sentiu vontade de rir ao pensar “Viu? No fundo você sabia, né? Só não admitia, ou não queria fazê-lo”.

Lá estava ele.

Porra.

Ele.

Lembrou da primeira vez que o viu.  Quer dizer, mal lembrou, pois fazia muito tempo. Muito. Muito tempo mesmo. Quase na era do gelo. Ela ficou indignada. Perdeu tempo demais. Tempo demais. Sentiu seu coração dançar com uma taquicardia descontrolada e a respiração quase rarear. Sentiu como se não tivesse os seus pés presos ao chão. Sentiu uma leveza, um calor, um rubor, um tremor, um suor, um desejo, uma alegria tão genuína e verdadeira. Tão real. Tão esquecida. Algo que ela pensava jamais poder sentir novamente ou, na verdade, não queria sentir. Mas, naquele instante, não podia evitar.

“Agora, fodeu” – ela pensou antes de ser interrompida.

– O que houve? – ele perguntou curioso, enquanto acomodava o celular na mesa do café e continuou – Aconteceu algo? Você está estranha. Fez uma cara diferente agora há pouco – disse ele tranquilo, olhando agora diretamente para ela.

Ela ergueu sua xícara e tomou um longo gole do seu chá de blueberry. Baixou a xícara e apenas ficou em silêncio olhando para ele.

Não disfarçou um sorriso e agora já não estava mais perplexa, apenas ainda não sabia o que dizer.

Fazia tanto tempo. Tempo demais. E lá estava ele. Era ele sim. Era ele. Depois de tanto tempo, quem diria, ela percebeu que o amor da sua vida estava ao alcance das suas mãos. Ao alcance do seu olhar. Ao alcance do seu toque.

E sorriu novamente ainda sem saber o que dizer.

Leve.

E quem poderia imaginar, ou mesmo detalhar em algum manual de instruções do amor, que as melhores coisas da vida resolvem explodir assim, como um raio e sem sequer avisar.

Photo by Louis Faurer

3 comentários

  1. fui tocada aqui // sobretudo, deixou um gostinho de “quero mais” .. a curiosidade de saber o q ela faz após essa descoberta // será que levanta desse café e vai de encontro ao amor da vida dela ? rs // desculpe a intromissão, não resisti ! 🤦🏽‍♀️😅🥰

    1. Olá. Imagina 😊 É sempre adorável receber um comentário. Não é intromissão, de forma alguma. Fique à vontade. O que ela faz? Rsrsrs excelente pergunta rsrsrs. Quem sabe não escrevo uma segunda parte??

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