Garotas Cantando Ska E Os Ácidos Derretidos Por Eugênia

leia e ouça: metro stylee || destroy

Eugênia? Eugênia?

A voz era estridente. Alta, cortante e ele queria saber de onde vinha. Afiada como os cacos de uma garrafa de conhaque quebrada. Afiada como uma faca voando em qualquer direção aleatória, arremessada por alguém em um bosque de neblina e que poderia o atingir a qualquer instante. E ele estava lá, naquele cenário. Na porra de um bosque de neblina. Mas isso não estava escrito no encarte de um álbum do Violeta de Outono??? Não fez sentido. Não entendeu coisa alguma. O bosque estava lá. Um bosque psicodélico. Um bosque de delírios. Imagens derretidas em ácidos de alta pureza. Sentidos dispersos. Perdidos. Inversos. Avessos. 

Eugênia? Eugênia?

A voz estava desesperada e drogada e ele queria saber de onde vinha. Machucava e fazia sangrar os tímpanos. Machucava como os cacos daquela garrafa quebrada que voltou à cena. Uma bêbada garrafa quebrada e uma adaga desvairada, pois sim, ela também não tinha ido embora, e estava voando de volta em sua direção. Arremessada por alguém. E ele estava lá. Bêbado num labirinto de desejos. Num labirinto de neblina. Num carrossel de delírios. Imagens distorcidas e derretidas em ácidos em alta pureza.

Eugênia? Eugênia?

Abruptamente, ele percebeu que estava suando frio. Perdido. Assustado. Exausto. Sem saber a saída.

Eugênia? esse nome continuava em looping. Insistente. Irritante. Mas quem é essa porra de Eugênia? Não conheço nenhuma Eugênia

De fato, ele sequer conhecia e, no final das contas, não a conheceu mesmo. Perdeu-se dela no meio da neblina, se acaso ela realmente tivesse passado por lá. Não viu o seu rosto. Não viu os seus olhos e nem os seus cabelos. Não viu o sorriso. Não sentiu o perfume. Não. Nada. Ele apenas acordou. Apenas acordou e muito, mas muito assustado, só esperando o impacto da adaga, da faca, da garrafa ou da porra que fosse que iria o atingir, machucar e ferir. O lençol estava molhado. Era suor. O sangue era apenas imaginário. A voz? Dele. Sim, dele. Eugênia? Mas quem era Eugênia? Respirou fundo, levou as mãos à cabeça e decidiu que precisava de um cigarro.

E, agora acordado, o que ele ouviu ao fundo era apenas a sua vizinha gostosa escutando em alto volume uma banda alternativa qualquer de garotas cantando ska. E isso era real. Infelizmente.

Ska. Vejam só, ska!

Photo: n/d

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