Pink Flamingo

Viviam a boa vida no lago da mansão do velho magnata da mídia. Trazidos do norte da África, essas grandes aves pernaltas se acostumaram com o clima e os cuidados na casa do poder da cidade maravilhosa, e se multiplicaram, formando um bando de mais de trinta.

Alimentados a pão-de-ló, de uma hora para outra viram seu mundo cair quando o doutor faleceu.

Sem os mesmos cuidados – os herdeiros não tinham paciência e a viúva os ignorava – muitos adoeceram e acabaram morrendo.

Perderam o tom rosa vibrante que tinha seduzido o velho e, pálidos, os sobreviventes tinham que suportar a água cada dia mais suja do lago que refletia o abandono geral da mansão.

Os filhos do velho preferiam morar de frente pro mar, e botaram a casa à venda, os pássaros inclusos.

Ele era corretor de imóveis, sabia que a casa seria difícil de vender, ainda mais com a decadência do bairro tradicional, mas aceitou a incumbência por causa dos flamingos.

Se apaixonou imediatamente pelas aves – nunca tinha vista bichos tão diferentes – e sempre que podia, inventava uma visita à casa, ainda que não tivesse nenhum cliente em vista, só pelos pássaros.

Numa dessas visitas, percorrendo o grande jardim, deu com um ninho feito de lama como um pequeno vulcão na beira do lago.

Um único ovo branco, de casca dura. Ele não resistiu à tentação e levou-o para casa.

Meses depois, soube que a mansão não seria mais vendida. Os herdeiros a transformariam em um museu, defensores da arte – para melhorar a imagem da família, defensores do próprio bolso – para conseguir isenção de impostos.

Não soube o que aconteceu com os pássaros de lá, mas Roberto, agora adulto, com mais de três anos e uma linda plumagem rosa, fazia sucesso em Belford Roxo.

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