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meia noite e três
meia noite e quatro…
…
Uma tela. Tela azul. Celular. Dois. O celular dele. O dela. Dois. Um. Eles. Apenas eles. Distantes. Tão longe. Tão perto.
– Saudade – ele disse.
Ela não respondeu com vogais e nem tampouco com sílabas. Ela apenas suspirou e o olhar verde esmeralda dela revelou o que mais sentia naquele exato instante: amor. Muito amor e saudade.
– Você é tão lind…. – ele tentou falar e foi interrompido delicadamente por ela – shhhhh. Não fala nada. Sinta. Apenas sinta – ela emendou com a voz cândida e doce e o olhou com tanto carinho e desejo que a tela azul quase derreteu.
Uma tela. Tela azul. Celular. Dois. O celular dele. O dela. Dois. Um. Eles. Apenas eles. Distantes. Tão longe. Tão perto.
Ela pousou sua mão suave sobre o ombro e, com cuidado, baixou vagarosamente a alça direita da camiseta ocre que vestia. Ombros lindos. pequenos e lindos. Manchinhas delicadas como se fosse pintura. Divina. Diáfana. Ele gemeu. Ela também. Ele tocou a tela azul do seu celular como se pudesse senti-la. Tateá-la. Abraçá-la. Na mesma hora, o perfume bordô que ela usualmente usava invadiu o seu quarto como se ela estivesse ao seu lado. Tremeu. Duro. Ao fundo, no ambiente dela e na distante tela azul, ele percebeu o vaso com as rosas que ele havia dado outro dia. Rosas vermelhas que brilhavam como fogos de artifício, gritando como se quisessem celebrar e participar da cena, do momento e do amor. Daquele encontro. O encontro deles. E, através da tela azul, ela se desnudou. Lentamente. Ele também. E, totalmente despidos, almas foram reveladas, desejos foram expostos, vontades foram escancaradas e, mesmo distantes, eles sentiram cada toque, cada textura, cada abraço, cada sabor, cada aroma, cada perfume, cada suspiro, cada lábio e cada beijo. Toque. Brilho. Olhares. Olhar verde, o dela. Olhar esmeralda. Lindo. Olhar apaixonado, o dele. Olhar enfeitiçado. Real. Juntos. Mesmo à distância. Tudo tão longe, tudo tão perto. Tudo através de uma tela. Uma tela. Tela azul. Celular. Dois. O celular dele. O dela. Dois. Um. Um coração. Deles. Apenas o coração deles. Distantes, mas tão PERTO. Tão PERTO. E, assim aconteceu o que eles mais queriam. A morte da saudade e o reencontro com o prazer de estarem juntos com seus dois corpos atracados, com seus dois corações unidos em dezenas de vontades, centenas de sentidos, milhares de toques e milhões de estrelas que, lá do alto sobre eles, curiosas como a noite, apenas observavam aqueles dois jovens tão apaixonados, tão envolvidos, tão entrelaçados em sentimentos e verdades que estavam apenas fazendo o que sentiam: Amor. Amor intenso. O amor. Deles.
E, 17 minutos depois desse momento divino, eles apenas sorriram um ao outro através da pequena tela azul do celular e nada disseram. Nada. Não era preciso. Tudo que precisava ser dito, já havia sido em gestos, atitudes e olhares. Em amor. Amor que transbordava os limites físicos, espaciais e sensoriais… o Amor. O amor que é tão sagrado… Sim, todo amor é sagrado… como diz a canção que não erra nunca
E, esperando o dia do encontro chegar, dezessete minutos depois do que começaram, eles puderam dormir em paz. Enfim em paz, enfim com amor. Felizes.
…
meia noite e vinte e um…
meia noite e vinte dois…
meia noite e vinte e três…
a vida inteira pela frente….
Photo by Cecilia Poupon
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