Estaremos sempre juntos

Na apresentação musical da minha filha, adolescentes interpretam as inesquecíveis canções de Grease e encerram com We Go Together, da cena final do filme. Nela, formandos do ensino médio cantam: We Always be together – Estaremos sempre juntos

Minha filha tem 16 anos e em breve viverá essa sensação, o aperto no coração de se despedir da turma do colégio.

Acho que todos lembramos aqueles dias intensos onde cada um se mudaria para uma faculdade diferente. Sabíamos que era o fim de uma era, que não haveria mais o convívio diário com os amigos amados. Escrevíamos longos textos de despedida em cadernos de recordações, tirávamos algumas fotos (como eram raras naquela época) e jurávamos com toda a convicção do mundo: “Estaremos sempre juntos”.

Pra mim, já se passaram 35 anos daqueles dias e as lembranças ainda mexem com meu coraçãozinho imperfeito.

Os jovens que se abraçavam emocionados no pátio do Colégio Singular de Santo André ainda são meus amigos amados, mas não estamos sempre juntos. Não sempre. Não todos. Alguns realmente são muito próximos, outros que eram queridos praticamente sumiram nos caminhos da vida, aparecendo no máximo em fotos esparsas no Instagram. Uns nem isso. Desapareceram de vez. Infelizmente houve até quem deixou esse plano antes do combinado.

35 anos depois consigo lembrar do peso daqueles dias. Dos abraços apertados, da promessas de amizade eterna, das frases feitas que provavelmente tantos anos depois serão repetidas de forma quase idêntica pelos colegas de minha filha no ano que vem. A vida prometia tudo. A beira da faculdade, poderíamos ter famílias perfeitas, o emprego dos sonhos, quem sabe seríamos super executivos, atores de Hollywood ou descobriríamos a cura do câncer.

De quando em quando, fazemos reencontros do colégio, lembramos as histórias, bebemos juntos, cantamos velhas canções. Nesses 35 anos mudamos muito. Ganhamos quilos, rugas e filhos. Deixamos para trás a perspectiva de que tudo é possível. É provável que nossas maiores conquistas já tenham ficado para trás.

Não há amizades como as da adolescência. O Amor em estado mais puro, antes das porradas da vida nos ensinarem o ceticismo, arma fundamental para a sobrevivência no mundo adulto.

Um dia percebemos que não há mais sonhos a realizar, o que vivemos é o resultado final do nosso esforço e para o bem ou para o mal, preenchemos nossos 50 anos de vida com histórias que não podem ser desfeitas. Resta esperar por mais rugas, quilos e netos.

Enquanto isso, minha filha vê o mundo como um livro em branco, pronto para ser preenchido com sonhos e esperanças, com perspectivas infinitas e a deliciosa falsa certeza de que os amigos estarão sempre juntos.

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