Semana difícil para os fãs da cultura Brasileira. Milton fez o último show de sua vida. Gal e Boldrin morreram no mesmo dia.
Os três dispensam apresentações, além de serem mestres naquilo que faziam, eram entusiastas da nossa arte, sempre apoiando novos talentos e a cultura brasileira como um todo.
Cultura é a alma de um povo.
Por isso, os causos de Boldrin, as vibrações das cordas vocais de Milton e o Balancê de Gal reverberavam em nossos corações.
Mas nos últimos anos, a cultura brasileira vem sofrendo ataques, cada vez mais virulentos. Em nome da política, donos de uma suposta moral mancham o que o Brasil tem de verdadeiramente brasileiro, genial e grandioso.
Não me parece estranho que quem canta louvores diante de quartéis perca a capacidade de se emocionar com o que temos de mais sensível e doce. Querem substituir sapatilhas por coturnos, pincéis por peixeiras, bibliotecas por clubes de tiro.
Pessoas que perderam a capacidade de aceitar a opinião do outro, gritam palavras de ordem tão alto que não se ouve a valsa triste de um bandolim ou o luxuoso auxílio do pandeiro.
Não querem seguir o trio elétrico, não amam a elegância sutil de Bobô. Não encontram a paz, não folgam os nós do sapato e da gravata, não escutam os teus sinais. A fumaça dos pneus queimados não deixa ver a baianidade Nagô, o soluçar de dor no canto do Brasil, o bocado de tristeza necessário para fazer o samba.
É preciso apagar a luz, calar voz, ter a mente quieta e o coração tranquilo pra voltar ao tempo da delicadeza.
Os gritos de raiva não nos impedirão de ir Pasárgada e não afastarão Jessica do curso de arquitetura. Não diremos bye bye ao Brasil. A dor Pungente não há de ser inutilmente.
Renasceremos em Emicidas e Crioulos, Linikers e Bemtis, Vieiras e Madeiras. Nas tintas de Varejão, nos saraus, slams e beats de comunidades outrora esquecidas.
O ranger de dentes será encoberto pelo estridente canto de adolescentes pardos e tatuados, com cortes na sobrancelhas e coreografias de Tiktok. A arte vencerá como sempre venceu. Porque o nome dos carrasco é esquecido, mas a marca do artista fica pra sempre.
Porque uma força estranha nos leva a cantar, porque cantar é encontrar o caminho que vai dar no sol.
Eu levei um susto com a morte da Gal… ao menos a despedida do Milton é dos palcos. Ainda o temos. Se bem que sempre teremos todos eles. Há pouco ouvia Baby
Temos que nos preparar, afinal, essa geração já está com cerca de 80 anos. Eles estão indo embora.