Olavo chegou, como todos os dias, pontualmente às oito horas, ligou seu computador e enquanto a máquina começava a funcionar pegou um café na garrafa térmica. Era bom ser um dos primeiros e tomar o café mais fresquinho de todos. Depois, sentou-se a mesa pronto a enfrentar a pilha de papéis que repousava a sua frente.
Ele era Analista de Projetos Pleno no Ministério do Desenvolvimento e tinha muito orgulho do cargo conquistado em um concurso há nove anos.
Olavo e seus colegas aprovavam ou não projetos de saneamento básico enviados por prefeituras. Eles decidiam a liberação de verbas para tais projetos desde que estes cumprissem as regras impostas pelo edital.
Eram regras bastante precisas detalhando como deveria ser projeto técnico, a apresentação do orçamento, o cronograma e a documentação apresentada. Cada projeto enviado ficava com aproximadamente sessenta páginas e o departamento tinha trinta e seis analistas para avaliar de dois a três projetos recebidos por dia. Em geral, as prefeituras esperavam de seis meses a um ano pela resposta de um pedido de verba para obra de saneamento básico.
Só que naquela manhã, Olavo começou a ter ideias enquanto carimbava alguns papeis. Pensou muito sobre os detalhes do que fazia e resolveu conversar com Margarete, uma das seis gerentes do departamento.
_ Margarete, estive pensando, por que o responsável técnico não precisa assinar todas as páginas do projeto? Ele só assina as seis últimas.
Margarete que tomava um café e passava os olhos numa revista concordou de imediato.
_ Tem razão. É muito mais lógico. Assinaturas com firma reconhecida em cartório?
_ Evidentemente. E creio que poderíamos também pedir dados demográficos do município.
_ Em quantas vias?
_ Três vias, cópias autenticadas.
Margarete elogiou a iniciativa de Olavo e tomou providências para que um adendo ao edital fosse redigido e publicado o quanto antes.
Olavo continuou seu dia carimbando e verificando documentos com o peito cheio de orgulho pelo bem que fizera ao país.