As ruas são uma fonte inesgotável de histórias e e essa caiu no meu colo quando eu estava no metrô.
Digo que caiu do céu porque o sujeito milagrosamente falava ao celular no vagão, a 80km/h num buraco no centro da terra. Coisa que não consigo fazer parado em meu escritório. Ou seja, trata-se definitivamente de uma intervenção divina.
O personagem da história é um homem de quarenta anos, feição rústica, pele morena e cabelos começando a pratear. Ele se vestia com roupas de qualidade duvidosa mas com inegável vaidade e algum conhecimento de moda. A mim pareceu ter mais informação que dinheiro.
Falava ao telefone com uma mulher. Pelo que deduzi ela encontrava-se numa situação econômica muito pior que há poucos anos.
Nosso personagem a consolava citando um determinado pastor e passagens do livro de Jó. Falava com firmeza e eloquência e eu cheguei a desconfiar que ele próprio pudesse ter experiência em apresentar-se em público, quem sabe na sua igreja.
Num determinado momento, para consolá-la, usou a si mesmo de exemplo:
_ Veja o meu caso, eu era muito rico, mas perdi tudo com bebida, drogas e mulheres.
E continuou:
_ Nos tempos em que trabalhei com o Lombardi, eu ganhei muito dinheiro, foi entre os nove e os catorze anos. Eu comprei casa, BMW, tudo… Eu era assim que nem o Justus.
Nesse ponto, para o meu azar e o azar de quem chegou aqui lendo atenta e curiosamente, tive de descer do vagão.
Assim, a fascinante história ficará sem fim. Cada um que use sua imaginação para concluir a trama como quiser. Embora a conclusão da história pouco me interesse. O que me move é a alegria de cruzar a cidade com ouvidos atentos, prontos a captar os dramas de cada uma das caras anônimas que circulam por aí.
Se bem que secretamente eu sonhe com esse cidadão visitando meu blog, se reconhecendo no personagem e revelando quem foi esse pré-adolescente. Rico que nem o Justus.